sábado, 29 de abril de 2006

Pfu!!!

 Ontem, 28 de abril de 2006, exatamente às 20 horas, expirou, inexoravelmente, o prazo legal para nós, brasileiros, entregar-mos a Declaração de Rendas, ao Governo.

Calma! Estou pensando!!!
Bem... Dizem os entendidos que você tem que regurgitar as coisas que te apertam na garganta, e no resto do que somos nós. Então, vamos lá.

Minha primeira declaração, eu a fiz de próprio punho (lindo isso!), isto é, manuscrita, em duas vias, usando obviamente um papel carbono. Esta cópia, e todas as outras mais dos anos seguintes, ficavam comigo, junto com os comprovantes. A primeira nasceu em 1973. Faz tempo, né?
Apesar dos tempos, "quentes" sob o ponto de vista político, foram tempos bons da minha vida. Eu crescia profissionalmente, tanto que o IMPOSTO, pesado, era descontado na fonte. (E pensar que fonte me lembra um lugar onde mina água). Então, eu fazia a declaração, usava todos os direitos (de forma direita) de acumular o máximo das deduções e, no fechar das contas recebia algo chamado de Restituição. Claro, a maior e melhor parte do filé ficava com "eles". Não é à-toa que o melhor ícone criado para representar esse fato é a figura gorda de um leão, sempre com cara de poucos amigos. (Depois, e já naqueles tempos, a gente sabia que ele (o leão) tinha, e muitos,  "parceiros" com os quais dividia bocados bons do nosso suado filé.
Não era por bobeira não, era por um sentimento sincero de brasilidade, que eu ficava um tanto orgulhoso por contribuir: O Brasil era um país que prometia se tornar um dos melhores do mundo. Até mesmo no futebol. Eu trabalhava numa multinacional, no setor Administrativo/Contábil. Por esse motivo, e pelo fato de ler muito a respeito de muitas outras coisas, eu sabia que, além do IR, eu, isto é, nós, pagávamos uma carga imensa de tributos para sermos o que éramos, e cumprir as promessas do que seríamos.
Concordemos! O Brasil, hoje, pudera, é muito diferente do Brasil de 33 anos atrás. Temos até auto-suficiência quanto ao petróleo, nos dizem.
Uma coisa não mudou. Mesmo nos contextos daquelas épocas, eu sabia, aliás, sabíamos que haviam muitos "parceiros" (do leão) que se refestelavam nos banquetes cujo menu constava uma única iguaria, cara pra burro: nossos impostos.
Hoje... bem... hoje os tempos já são outros. No correr da nossa história, ocorreu um fato, uma coisa, à qual todos chamam de "abertura". De fato, há mais transparência no modo como chegamos ao conhecimento das coisas.
Por outro lado, acuda-nos Deus, a tal de "abertura" se tornou um bicho feio e enorme, ao qual podemos, sem medo de errar, chamar de "escancaramento". Sim! isso denota um excesso de abertura através da qual os 
nossos suados IMPOSTOS são descaradamente roubados. E ainda querem nos fazer de inbecis, ao renomearem isso de "desvio de verbas". E não nos enganemos não, gente, não se tratam de urubus e hienas disputando restos de carcaças. É gente esperta que mete a mão no filé fresquinho que sai do nosso bolso a todo instante!
Naqueles tempos, mais novo, eu sentia orgulho em ser Contribuinte. Hoje, bem, hoje eu me sinto
um CONTRIBUINTE... .... ... ...
Poxa! Compreendam! Eu me dou o direito de não colocar Complementos Nominais e nem Adjetivos no lugar das reticências! Poxa! Eu tenho o direito de sentir vergonha! Respeitem isso, tá legal?! Obrigado!!!

sexta-feira, 28 de abril de 2006

Tessitura sobre tela

Flamingo (2002)


Olhe a pose.
Para alguém que estava com a alma pedindo para construir uma poesia, veio a resposta para escrevê-la com as formas de um flamingo, na textura, nos matizes e nos tons do "tudo rosa", sobre um fundo escuro.
Talvez, se tivesse construído a poesia, (não me lembro do estado de alma naquele dia), os tons rosa não apareceriam.

Olhe para esse flamingo.
veja-o como uma poesia
escrita com as cores de um flamingo.
Porque, se fossem palavras,
que tons será que elas teriam? Posted by Picasa

Acho que fui enganado!

 Agora a pouco acabei de tomar o café matinal.
Durante, notei que na tampa da embalagem da margarina estava escrito: Nova Delícia Mila.
Logo abaixo, em vermelho tal qual a "Nova", estava escrito: Sabor Original.
Sei não! Assim que acabei de comer o pão com essa dita margarina, o que senti,
mesmo, foi um... Sabor Final.
Acho que me enganaram!
O sabor, bem, tanto o inicial quanto o final, era um sabor igual ao de margarina, sem um nadinha de algo parecido com "original". Eles me avisaram, na mesma tampa, que era margarina.
Então... fui eu que me enganei?

quinta-feira, 27 de abril de 2006

Coisas da minha cidade!

 Isso acontece também na tua?
Aqui, a notícia da morte de alguém é anunciada aos quatro ventos pelas badaladas dos sinos das duas igrejas predominantes: a católica e a de confissão luterana. Esta, bem perto da minha casa.
Hoje, deve ter morrido algum católico. As badaladas vieram de lá. Não é todo dia que acontece isso, não. Se você vier nos visitar, e vier pela rodovia no sentido leste/oeste, na entrada da cidade você se deparará com um portal não muito imponente. Mas lá, em letras bem grandes, está escrito: "Capital da longevidade". Talvez seja por isso que badalam os sinos; a morte de alguém, aqui, é pura novidade!!!
Cidade pequena, e todo mundo ouve as badaladas espaçadas, lúgrubes.
Uma para cada ano vivido pelo morto, creio eu, pois algumas são mais curtas, outras mais demoradas, sempre no mesmo ritmo. Blom...    Blom...   Blom... Nunca me ocupei em contá-las. Aproveito esse tempo para pensar e fazer outras coisas, pois, o que me interessa, mesmo, é a vida.
Ah! Ia me esquecendo. Quando faleceu o Papa João Paulo II, foi uma hora inteira de badalação. No meio daquelas que fizeram blim... blom - por meia hora cada - vieram os  "blons", um para cada ano que ele viveu. Não contei. Pelo que ele fez, pelo que ele foi, poderiam muito bem passar de mil que eu aplaudiria.
São coisas desta minha cidade pequena. E sei que, se não fossem as badaladas, todo mundo ia mesmo ficar sabendo que alguém foi desta para uma melhor...
Sei lá! Depende da vida que o morto levou, não é?
É tão incerto o que acontece do outro lado. Brrrrrrrrrr!

segunda-feira, 24 de abril de 2006

Tessituras sobre tela

   Alegorias de Angola III (2002)


Natureza e homem, juntos! a construir um devir de liberdade. Um povo, representado por suas mulheres, busca reescrever a História de uma nação tanto tempo subjugada por um colonializmo opressor. Posted by Picasa

Penha

 

Estendido sobre teu dorso suave,
contemplo as estrelas.
Afaga-me a relva macia,
aquece-me o hálito morno da brisa.

Gira o firmamento.
Sucede o sol às estrelas.
Brumas brancas,
intumescidos relevos.

Respiras,
transpiras,
sob o tórrido sol.

Estendido sobre teu dorso suave,
contemplo o astro-rei.
Revolvo a relva macia.
Um hálito novo, se eleva.

Despertas!
Revoltas madeixas.
E ouço o canto,
o rumor das ondas.
O gozo, ... o êxtase
da Vida em cio.

Penha!
Estendido sobre teu dorso suave,
adormeço e sonho:
seres tu... pedra inculta,
- sob a tormenta-
o refúgio desta alma que te canta.


quinta-feira, 20 de abril de 2006

Apenas uma reflexão!

Observe o espaço em branco aí ao lado. É uma foto digital de uma tela para pintura, com as dimensões originais: 50 x 70 cm. Propositadamente a postei na posição "retrato".
Por favor, observe esse espaço e, pense. Pense!
É espantoso, não é? É instigante, é algo mágico e ao mesmo tempo preocupante estar diante de um espaço semelhante a esse, o qual oculta, ou oferta, um devir infinito. Sim, pois esse espaço permite que o preenchamos com formas infinitas. E também são infinitas as possibilidades das texturas, dos tons e dos matizes de todas a cores.
É algo assustador, se pensarmos com profundidade de propósitos.
Nesse espaço caberia Estudo a partir do retrato do papa Inocêncio X de Velasques, 0bra de Francis Bacon na qual destaca as profundezas abomináveis da psique humana; caberia As três idades do homem e a Morte, de Hans Baldung, numa alegoria do que nos faz o tempo; caberia Piedade, de William Blake, retratando uma passagem de Shakespeare, em Macbeth; caberia Primavera, de Botticelli, traçando em linhas graciosas as túnicas das Três Graças; caberia Uma alegoria de Vênus e Cupido, de Bronzino; caberia A dúvida de Tomé, de Caravaggio; A Natividade, de Corregio; caberia o surrealismo de Salvador Dalí, tal qual em o Sono; a graciosidade de O ensaio, de Degas; O casamento dos Arnolfini, de Van Eyck; a dramaticidade de Judite e Holofontes, de Gentileschi; o trabalho quase que de escultor de Van Gogh em Girassóis; Jacó recebendo a capa de José, de Guercino; o enigma Mona Lisa, de da Vinci; As respigadeiras, de Millet, A Madona, de Munch; a delicadesa de Dagmar, de Zorn.
Isso, apenas para fugir da redundância de citar as inumeráveis obras geradas pelo espírito humano, e registradas em espaços semelhantes a esse, em maior ou menor proporção.
É sabido que, em muitos trabalhos, por algum motivo, autores simplesmente fizeram uma outra obra sobre outra já acabada. Eu pinto, e já fiz isso. Já vi inúmeras telas as quais serviram a esse propósito: ser a base de mais de uma idéia expressa através de formas e cores. Refaz-se, ou se faz algo diferente, e pronto.
Então eu penso!
Num determinado momento crucial da nossa existência, reebemos algo semelhante à tela acima. Esse algo, podemos denominá-lo de mente, alma, entidade, espírito. Que talvez até já venha com algo virtual e semelhante ao "sistema operacional" de um computador, que o habilite a funcionar, mas, que nos vem em branco.
Se diante de uma folha de papel em branco que a mim, poeta, emociona; ou mesmo diante do branco de uma "tela" de computador como esta que agora estou compondo, me emociono, fico em estado de espanto quando penso na nossa alma, assim que a recebemos, em branco, e em como ela está agora quando já a preenchemos até este momento da vida.
Sobre uma tela para pintura, podemos facilmente aplicar outras pinceladas e, no final, teremos algo novo. Uma folha outrora branca, mal escrita, lançamos ao lixo, e retomamos outra branca e recompomos o que queiramos expressar. Se na "tela" do computador, fizermos algo de que não gostemos, deleta-se, faz-se algo, talvez melhor, e pronto. Quantas vezes quisermos.
Mas, e com a nossa alma? Na maioria das vezes não há como voltar atrás e refazer algo que não devíamos ter feito; não há como voltar atrás e redizer uma palavra ou refazer uma ação que tenha ferido alguém a quem amamos e perdemos; com a alma, na maioria das vezes, não dá para repintar algo por cima do já feito, e dizer que está tudo bem.
E é interesante: quanto mais o tempo passa, mais gostaríamos, talvez, de voltar no tempo e fazer ou dizer coisas de um modo diferente, que não precisasse de retoques ou de consertos no futuro.
Por isso, se eu vejo com espanto, com assombro, as infinitas possibilidades contidas no espaço de uma tela em branco, maior espanto e assombro há, quando penso na nossa pobre e sempre inconclusa alma. E, repito, é assombroso, não é?
 Posted by Picasa

domingo, 16 de abril de 2006

Eu Creio!

Se me perguntam a religião, respondo: Cristão.
Igreja? Católica Romana, e não praticante. Explico, porque não praticante: o ritual litúrgico da Igreja, para mim, é algo mecânico, repetitivo, entediante, embora o fluir do calendário litúrgico anual. Não satisfaz a minha busca por uma espiritualidade mais profunda, não produz momentos/tempo para o encontro da minha alma, com a luz que emana da esfera dos espíritos. Durante a missa, não há um momento/tempo para que se mergulhe no oceano onde aconteçam os encontros dos espíritos. Tudo parece ter um tempo certo para começar e acabar. É um rito medido no tempo carnal, não no espiritual. O carnal se cansa logo, urge apressar as coisas.
Se houvesse um único ritual no ano, que seja, mas fizesse mergulhar a minha alma no reino das almas, só esse único ritual, que durasse horas, dias, semanas, preencheria, creio, minha busca por um aprofundamento espiritual. Sinto imensa falta disso. Estou à procura de um caminho que me leve a isso, a esse preenchimento da minha alma.
Sou Cristão, Católico, Romano, não praticante, repito. Mas, percebo algo muito estranho.
Percebo pessoas que se dizem cristãs, católicas como eu, praticantes, dizem , mas que, em determinadas rodas de conversa fazem até piadas sobre os mistérios que envolvem o Cristianismo, o acontecimento do Natal, outra data importante. Lembrei-me disso agora, por estarmos na outra ponta do fio dessa história: a de Cristo – Páscoa!
Nascimento de Cristo - Natal. Como ele se deu, segundo os relatos dos evangelhos. As piadas, ou... dúvidas, pairam sobre a forma como Cristo foi concebido. Obra do Espírito Santo? Confie-se numa balela dessa, ouve-se dizer. A concepção de um ser, fora da esfera carnal, é balela. José é participante ativo nisso, ou outro homem qualquer, dizem. Pode até ser, mas o Cristo não é menos Cristo, devido a isso.
Pois aí vai a minha opinião, o que penso com todas as forças da minha pobre alma!
Creio em Deus, Naquele Que Se diz Ser: “AQUELE QUE É”. E Que atribui a Si mesmo o nome de Yaveh – que pode ser escrito sob outras formas. Início e fim de tudo. Criador de tudo o que há! Por Ser Quem É, não existe limites ao Seu poder, por isso, diz-se: Deus Ser Onipotente. E Ser Onipotente, para mim, é poder fazer tudo, até aquilo tido por impossível, segundo o pensamento humano.
Pois bem. Se eu nego – a Deus do Qual eu afirmo crer – o poder de intervir na vida de uma mulher, Maria, e nela manifestar o Seu desejo de que no útero dessa mulher seja gerada uma nova vida, sem a participação carnal de um homem, e que dali nasça um ser gerado como homem, então, eu renego um poder a esse pretenso Deus, e Ele se torna nada. Eu anulo Deus. Torno-o, um Deus nada. Anulo minha fé.
O mistério da Páscoa! Se sou cristão, o sou porque a fé cristã é sustentada pela fé na ressurreição de Cristo após morto, e depositado num sepulcro. Se eu duvido que Esse Deus – Yaveh - tenha o poder de ordenar à matéria que ele próprio gerou a partir do útero de uma mulher escolhida entre tantas, e que essa matéria recobre a vida a partir do mundo dos mortos e se transfigure/renasça numa dimensão inacessível aos sentidos e conhecimentos do homem, também digo que esse Deus deixa de ter poder sobre tal fato e, então, o reduzo a uma mentira, a uma balela. O Deus, Onipotente, no qual dizemos crer, não existe. Então, anulo a minha fé.
Se eu digo: “Tudo posso Naquele em Quem creio e confio”, e Lhe nego o poder de ter gerado os fatos que envolvam o nascimento e ressurreição de Cristo, então estou proferindo palavras vazias de sentido e de terem ações benéficas sobre mim, pois que dirijo um apelo a algo que, por si, nada pode, pois lhe nego o atributo de Ser todo o poder. Então: “Tudo posso... "O quê? mesmo?
Pois, creio, em Yaveh! Meus sentidos humanos/orgânicos estão a anos luz de perceber as maravilhas existentes no reino de Yaveh. Mas, minha alma, meu espírito, essa entidade que me habita, crê e confia que, algum dia, tudo será revelado, e um mundo inundado de luz me absorverá, e então essa fé, que não é cega, será recompensada.
Sabemos, via prismas, as cores das quais a luz que percebemos é composta. Aparelhos tecnológicos aumentam a sensibilidade dos nossos sentidos, pois falamos ao celular, ouvimos sons, vemos imagens, percebemos campos eletromagnéticos, micro-ondas, entre tantas coisas que nossos pobres sentidos não percebem, e que são transportados por elementos invisíveis ao nossos sentidos. Nossos sentidos podem, e sofrem, interferências diretas dessas coisas não percebidas. Nem é preciso crer nisso. Sente-se
Para muitos, até para físicos renomados do passado, um avião jamais voaria; telefone, serviria para que?; computadores: o mundo todo só absorverá no máximo cinco, alguém já disse. E tantas outras crenças semelhantes a essas, há, nas mentes em todas e de todas as idades, e tempos. São coisas próprias do devir homem/animal/matéria.
O Reino de Deus, bem, ele depende da nossa tão empobrecida fé. Fé que vira mercadoria, que é vilipendiada por charlatães, fé que nos conduz a todos os tipos de armadilhas, que nos converte em pontos obscuros de interrogação: Quem, ou o que, somos nós?
Yaveh, por Ser Quem É, não banaliza o milagre. Não vemos acontecerem milagres a todos os instantes - isto, sob um ponto de vista exclusivo e próprio da nossa constituição enquanto matéria - mas, o milagre existe, algumas vezes como uma resposta surpreendente e desconcertante; outras vezes ele chega até nós de uma forma tão sorrateira, tão sutil, que até nem parece que seja um milagre. Porque, talvez? O tempo. O tempo! Nós somos prisioneiros de um devir de tempo medido em segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses... milênios.
Yaveh! O que é o tempo para Yaveh, se ele É o Senhor sobre o tempo? Ele, e tão somente Ele, conhece o que seja de fato essa coisa à qual denominamos tempo, e do qual somos dependentes ou prisioneiros.
Eu? CREIO EM YAVEH!

Páscoa

Sob qualquer ângulo, a Páscoa é o melhor de todos os dias.
Engastada nessa palavra: Páscoa,
Percebo, enorme e redundante,
a palavra Esperança!
Palavra que nos seduz a viver
nesta vida estranha,
sempre crentes de que o devir
nos traz a solução
para tudo.
Até para a morte!
E mesmo para a Libertação!
Mesmo que não façamos a escolha
da visão ou dogma,
do que signifique,
Passagem:
se do anjo libertador;
ou a da escuridão da morte
para a luz intensa de um devir
em outra dimensão, que nós cristãos
acreditamos!
Se Páscoa é, de qualquer modo, sinônimo de libertação,
então, a todo instante, alguém estará
vivendo o seu melhor dia: O SEU dia de PÁSCOA...
LIBERTAÇÃO!

segunda-feira, 10 de abril de 2006

O silêncio da rosa

Janela vazia,
e Hortênsia que não me vê.

Do jardim,
furtiva e adolescente
colheita de uma flor.

Na soleira da porta,
como se fora a seus pés,
depósito solene,
do rubro tributo ao amor.

Toque na porta.
Desabalado correr.
Do esconderijo...
a espreita.

Abre-se a porta.
Curva-se Hortênsia.
Dá refúgio à solitária flor.

O sorriso: Perfeito!
O meigo olhar verde
Perscruta o redor, e nada vê.

Das mãos, o afago.
As desejadas carícias
que não recebi.

O suspiro profundo
inala o suave perfume.
Nas pétalas macias,
o beijo denso,... longo.
No regaço dos seios,
o silêncio da flor.

domingo, 9 de abril de 2006

Releitura (2006)

Título original "Ceia" (2004)
Por: Sônia Vrubleski
óleo sobre tela - 60 x 100 cm
Inspiração: "o pão e o vinho"
Fonte: Revista Galeria em Tela, Ano 5, n. 55 - Editora OnLine.

Uma encomenda feita por um dono de Pizzaria, com desejo de decorar o ambiente. Um trabalho feito a quatro mãos: eu e minha esposa Lucidalva.
Ela fez o fundo, os pães e a mesa. Dediquei-me ao garrafão, às uvas, à taça, a alguns dos sombreamentos. Enfim, uma releitura (2006), de um belo trabalho executado pela Sônia. Obrigado Sônia! Posted by Picasa

T.P.M.

Ontem saí novamente para uma caminhada, sem um destino certo onde chegar, e sem os atropelos da hora marcada para retornar. Apenas sei que, quando saí, o sol projetava a minha sombra não muito alongada. Quando me aproximava, na volta à cidade, antes que eu me expusesse às luzes geradas pela eletricidade a criarem áreas iluminadas e projetarem sombras; a lua, com o fraco brilho do seu quarto crescente, projetava a minha sombra para os lados dos caminhos.
As coisas que eu via, que vi, eram as coisas que se vê quando se vai ao campo.
Tive que tomar decisões, em várias encruzilhadas. Dos caminhos que deixei de percorrer, jamais saberei o que eles me mostrariam; que emoções me provocariam. Passei por inúmeros acessos às moradias das pessoas que vivem no campo. Como não havia intenção de encontrar qualquer uma dessas pessoas, eu ia adiante. Sabe-se lá, o que resultaria de algum desses encontros.
Quem não me deixou só, foram os meus pensamentos.
Os caminhos se apresentavam com inúmeráveis e inexplicáveis curvas. Encruzilhadas, com certeza. ("Todos os caminhos levam a Roma" - lembram-se) Quaisquer daqueles caminhos, nas encruzilhadas, que eu tomasse, poderiam me levar a dar um giro ao redor do mundo, se assim o quisesse, descobrindo um mundo enorme de coisas. É o acontecer de um rizoma, tal qual a vida é, que, em cada nó, em cada encruzilhada ou escolha, nos leva a um destino certamente diferente.
Assomaram-me lembraças das últimas leituras de Deleuze, uma das mentes enigmáticas e grandiosas, capazes de decifrarem os mitos e os mistérios que somente a pura filosofia pode alcançar. E pensei, que, dos mitos e mistérios da vida, não há um sequer PhD que possa afirmar saber tudo sobre alguma coisa. Pensei que, por mais que pretendamos entender os escaninhos e mistérios da vida, é como se apenas molhássemos os pés na areia da praia, apenas umidecida pela última onda da arrebentação, do imenso oceano. A vida, é um fluir e um construir rizomático indescritível; é algo que resulta apenas de uma sucessão próxima do inexplicável que há entre a Diferença e a Repetição, das coisas e entre as coisas.
Talvez seja porque não comprendamos isso é que, às vezes, nos deixamos dominar por uma sensação de tédio. A minha história, a história de qualquer um, a História da humanidade, nada mais é do que essa enigmática sucessão de diferenças e repetições, um devir rizomático que nos constrói, para o bem ou para o mal, e que, muitas vezes, resulta apenas em escombros. Sensação essa que surge com mais freqüência em quem se afasta da aceitação de que há, sim, um Deus, uma força motora indescritível sob cuja regência o universo se cria e se recria a cada instante, tal qual na síntese de nossas próprias vidas. Talvez seja por isso, pela imensidão desse mistério, que é a vida, que já se afirmou de que Nietzche, em seu leito de morte, nos derradeiros instantes da sua existência como um dos grandes pensadores da humanidade, ele tenha apelado para que houvesse: - "Mais luz!... mais luz!". Quem sabe, esse apelo tenha sido feito por ele ter percebido, num derradeiro momento, de que não há um saber definitivo sobre o que é o universo; sobre Essa imensa força geradora do universo a partir das minúsculas partículas da matéria - suspeita-se até de uma anti-matéria -; sobre o que são essas minúsculas partículas estelares, rizomáticas, moleculares, que nos constituem como seres orgânicos, e sobre essa coisa que nos anima: a Alma, assomada sabe-se lá como, em nossas vidas, e que nos faz ser-mos, cada um per si, um ser único.
Caminhar, ontem, criou esses momentos que me fizeram passar por uma das crises maravilhosas do TPM - Tempo Para Meditar. Bendito TPM.

sexta-feira, 7 de abril de 2006

Telas e tessituras




Traços e laços (2001)

Rebatizada: Rostidades




Rostos: Palco, cenário e atores de todos os dramas e de todas as comédias da vida humana.
O script? Bem! Esse é escrito pela alma no eterno presente dos acontecimentos das paixões, dos ódios, dos amores, dos descasos...
Eterna comédia, faces, ou facetas, da vida. Posted by Picasa

Hoje! Que porre...

Sei lá!
Estou numa ressaca de vida que se hoje ainda fosse ontem pela manhã, ou mesmo fosse o amanhã a qualquer hora que seja, tudo seria o mesmo.
Minha vontade é a de não estar em lugar algum.
Será esse mesmo sentimento que leva um avestruz a meter a cabeça dentro de um buraco, e ficar lá, naquela posição ridícula?
É assim que os cartunistas e contadores de historinhas nos dizem, não é? A respeito do avestruz!
Bem, como não há um buraco aqui por perto onde caiba a minha cabeça - exceto o depósito de lixo aqui ao meu lado - e nem quero reproduzir a posição ridícula do avestruz, fico na minha e, estão, escrevo isto aqui, e faço disso a minha postagem de hoje. Um treco, assim como está sendo esta sexta-feira, a esta hora. Um porre...

terça-feira, 4 de abril de 2006

O edificador do tempo!

Onde encontrar-te,
Oh! Incansável construtor do tempo.

Edificas o passado,
E constróis o devir
Do futuro incerto.

Ao passado que fizestes, cabe remendos?
Simulacros de remendos, talvez.
Ao futuro que irás construir, cabe domínios?
Simulacros de domínios, talvez.

Onde encontrar-te, então,
Edificador do tempo?
Que formas tens tu,
Se te apresentas tão fugaz?

Como achegar-se a ti,
Se te apresentas imperceptível
No infinito rolar do tempo?

Serias, tu, apenas um simulacro?
O simulacro de um tempo que nos consome,
sonho desvairado de uma Entidade que te cria?

Rizoma indefinível
Que o pobre homem tenta
Aprisionar em anos, dias e horas.

Onde encontrar-te,
Fugaz construtor do tempo?
Se passas Presente, célere,
Inaprisionável por um segundo sequer?

Simulamos possuir-te,
ou perder-te... nós...
simulacros de uma existência,
ou simulacros de um sonho inquietante...

segunda-feira, 3 de abril de 2006

Qual insano fez isso?

Exatamente, não sei dizer quando foi a última vez que estive aqui. Faz algum tempo, pois.
Aqui onde estou, de pé, um dia aqui estive sentado, sem dar conta do correr do tempo. O lugar tinha uma extensa relva macia, vigorosa, exuberante de vida. Bem próximo de onde eu estava sentado, naquele dia distante, havia um arbusto em plena floração. Eram os sinais da primavera. Abelhas, borboletas multicores, e uma infinidade de insetos vinham ali em busca de pólen e néctar. Claro, outros arbustos que por ali vicejavam, também faziam essas suas oferendas à vida.
A poucos passos de onde eu estava, estendia-se uma grande lagoa de águas límpidas. Rapazes, moças, crianças, pessoas, freqüentemente vinham ali tomar banho e brincar sobre uns troncos de madeira que por ali existiam. Não eram raras as presenças de alguns pescadores, pois que a lagoa era generosa em peixes.
Naquele dia, olhando para a direita, percebi que havia três elegantes garças brancas que se alimentavam nos rasos da lagoa. Bem à frente, a mais de duas centenas de metros, havia uma mata luxuriante. Dali se ouvia o cantar incessante de várias espécies de pássaros. Um pequeno bando de macacos fizera daquela mata, o seu habitat. À esquerda, margeando a lagoa, chegava-se a um matagal constituído de pequenos arbustos, e algumas variedades de capins. Seguindo na direção de onde vinha um suave ruído de águas correntes, chegava-se ao local em que a lagoa despejava sua águas por entre as pedras e, então, ali nascia um regato que, certamente, mais adiante se uniria a outros regatos que formariam um córrego, que se uniria a outros córregos para formarem um rio, e o rio tomava a direção do oceano distante, nesse maravilhoso e rizomático acontecer do ciclo das águas.
No interior da mata, numa pequena e deslumbrante clareira, havia um lugar de singela beleza, e protegido por samambaias e outras variedades de plantas. Ali havia um poço não muito profundo. Suas águas eram as mais cristalinas que eu jamais vira na natureza. Era extasiante observar o borbulhar da branca areia do fundo do poço, trazendo à tona a generosa água que dali brotava. Vários eram esses borbulhares. Essa fonte alimentava a lagoa, criava os encantos desse lugar e contribuía para a grandeza do oceano.
Eis, pois, que os verbos, até agora, registraram um tempo passado.
Agora, aqui estou, de pé, pois que não há mais relva macia sobre a qual sentar-me. O solo está varrido, seco. Um ou outro tufo de algum tipo de capim que surge em lugares quase sem vida, esforçam-se para mostrarem uma ou outra folha ainda verde. Ao redor, tudo é devastação.
Dou alguns passos à frente, e começo a pisar o solo que antes sustentava a lagoa. Passo por entre pedras, por alguns trechos de areia seca, e por outros tantos de chão duro e sem vida. De onde começava a mata, vejo uma infinidade de troncos abatidos a moto-serras. Aqui e ali, de pé, uns espectros enegrecidos de carvão, restos do que outrora foram árvores viçosas, criam um espetáculo horrendo.
O lugar, certamente, foi destruído e abandonado, há algum tempo, à própria sorte, pois, um ou outro arbusto por ali vicejam na terra empobrecida. Nada mais.
Chego ao lugar onde outrora eclodia a fonte de água. Revolvo folhas, galhos secos, cinzas, e eis que reencontro a branca areia. Seca. Olho ao redor e vejo três pequenas poças de água, talvez de chuvas passadas. Água estagnada. Em suas superfícies, a ordinária e fina camada iridescente que normalmente cobre as águas mortas.
Não sei o que pensar, não sei o que dizer.
Volto para o lugar onde há pouco estivera de pé, e outrora sentado. Agora os pensamentos fluem, e fluem estranhamente. Penso no homem, nos vários tipos de homens que surgem no caudal da vida, e nele deixam as suas marcas. Penso: o que se passará pela cabeça de um general que, após uma batalha, após o resultado das suas táticas e estratégias de guerra, contempla um sangrento campo de batalha eivado de corpos sem vida, e tinto de puro sangue? Escombros de uma guerra. Quais os motivos terão levado o general a compor tão cruel cenário? Penso em Guernica: o óleo sobre tela feito por Pablo Picasso, retratando a sua visão de artista, do sangrento e odioso bombardeio alemão sobre a cidade basca, em apoio à política de um homem: o ditador Franco. E penso no homem cuja mente compôs esse cenário de morte à minha frente. Com que finalidade o compôs? Qual o seu propósito? Se ainda vive, e vê essa sua obra, que pensamentos se apresentarão à sua mente?
E fluem os pensamentos: os horrores nossos de cada dia.
Depois, vencidos o espanto e o ódio, penso que a vida ainda vale a pena ser vivida, apesar da presença desses espetáculos criados por mentes...

domingo, 2 de abril de 2006

Março... bem...

Março! Eu ia falar de março, do mês de março que se foi? Trinta e um dias. Se alguém quiser fazer os cálculos das horas, minutos e segundos que ele durou, fique à vontade. Não vou fazê-los. Março, o meu mês de março, teve a mesma duração cronológica que teve para qualquer outro ser vivente. Mas, para mim - o psicológico - foi um mês longo, longo em demasia. Por algum motivo - já escrevi aqui sobre isso - eu descobri que estava sendo corroído, sutilmente, pela depressão. Sim, pela depressão, essa coisa que ataca em qualquer idade. Ela me atacou nesta minha idade. Foi tão sutil o seu ataque que quase não lhe percebi. Claro que ela não veio assim, de repente... em março. Mas foi em março que dela tomei pleno conhecimento. O médico me disse: ele deve saber bem sobre o que me disse.
Medicamentos! Própósito? Desligar-me. Ou, melhor, ligar-me a uma vontade, forçada, para relaxar, para desejar afundar-me de uma vez numa rede, ou estender-me numa cama e, dormir, dormir, dormir.
Depois. Bem, depois seria, ou será, algo para fazer o contrário. Ligar-me novamente à vontade de ligar-me, de viver.
Eu comecei dizendo que ia falar sobre isso? Ah! Sim. Acho que sim. Estou meio desligado mesmo.
Bem! Ontem, à tarde, afundado na cama, lembrei-me de uma coisa, de uma coisa bem simples: lembrei-me da vida! Levantei. Calcei uns tênis, e saí para caminhar. Aqui onde eu moro, se você quiser de fato caminhar por bastante tempo, e não ficar zonzo de tantas voltas por ruas asfaltadas e já passadas e repassadas, você tem que sair para o campo, para as colônias. Passar por milharais e ouvir o seu bate-papo com o vento; passar por matas e ouvir suas fofocas com o mesmo vento; ouvir os pássaros nos seus cantos de bate-papo com a vida; passar sobre riachos e ouvir seu bate-papo com suas próprias águas, com as margens, com as pedras e galhos que lhes esperam pacientes; passar por moradias e ouvir os latidos dos cães e seus donos a acalmá-los: - é alguém que apenas passa!; ouvir o barulho do gado arrancando bocados de capim dos pastos, um ou outro se comunicando aos berros; porcos, nas granjas, grunhindo em seus cubículos apertados; subir e descer ladeiras; ser engolfado pela poeira levantada por algum carro que passa. Essas coisas.
Foram mais de três horas de caminhada. As pernas e o corpo se cansaram? Sei-lá! Cheguei em casa: um começo de noite, um banho, uma breve relaxada na cama, pois as pernas e corpo não são de ferro.
Durante a caminhada, juntos iam: minha alma e meus pensamentos. Eles diziam coisas: às vezes falavam em sussuros com Yaveh; às vezes agradeciam pela vida; às vezes agradeciam a companhia das coisas que se mostravam no chão e nas margens próximas ou longínquas, da estrada; às vezes me lembravam que ontem iniciara abril... Abriu... ABRiu... ABRIU... Então...
Ao final, no breve relaxar depois de tudo isso, lembrei-me de que a vida é a benção de um rizoma. Rizoma rede, um emaranhado misterioso de nós que não te deixa cair se você descobrir que pode e deve se abandonar à segurança dessa rede rizoma, a vida, que é uma benção de Yaveh. Rede rizoma que tem a virtude de, se um nó se romper, incontáveis outros se unirão para te sustentar, para te manterem seguro, vivo, e com vontade de viver. Por entre os inumeráveis, infinitos nós, estão as pessoas com as quais você cruza e te dão um aceno, uma palavra amiga não solicitada e nem esperada; um sorriso honesto, franco, quando você sequer tem vontade de sorrir.
Então, não importa quão grande lhe pareça o problema que você tenha, você acaba percebendo que, no final, qualquer problema que você ache que seja grande, ele será, ridiculamente, muito menor, mas muito menor do que o Mágico de OZ.
E que, grande mesmo, só Yaveh Que É maior que tudo o mais, e que te provê de coisas se a Ele você se entregar, e fizer um mínimo que você possa fazer. Mesmo que seja apenas uma caminhada.
Março? Bem, esse se foi... Abril... Abriu!!!