domingo, 30 de julho de 2006

Expectativas!!!

 Ainda não pode haver um... Ufa!, de alívio.
Nesta semana, depois de resolvidos alguns impasses, inclusive uma teimosa e indisfarçada displicência minha, consegui enviar para a Bia, minha orientadora, o esboço da minha Tese para que ela faça suas observações e, depois, protocolá-la para a Banca de Qualificação.
É uma tremenda corrida contra o tempo.

A semana que vem, toda ela será dedicada à preparação da apresentação à Banca - terei 30 minutos para isso, isto é, a apresentação para a Banca. Devo fazer num suporte midiático, com imagens, texto, som e, acima de tudo, incluir a minha performance - dizer à Banca a que eu vim.

Pois é! Como diz a Bia - eu aqui repito -: "Há muito bolo e pouco glassê".
Essa falta de tempo me impede de visitar os muitos blogs interessantes que estão por aí.
Inclusive dar mais atenção a este meu.

Além disso, há outras coisas. Por exemplo: minha esposa acaba de me chamar para comer tapioca quentinha que ela está preparando; e o cheiro de café recém passado está esticando meu nariz.
Então... vou nessa.
Até!


sexta-feira, 28 de julho de 2006

Apresentando um amigo - 3

(parte 3)

Até que, enfim, falemos dessa figura aí ao lado, que não está dormindo: está “pensando”.
Deve ser um filósofo canino.
Nasceu em 17 de outubro de 2003, em Toledo, cidade que fica a 35 quilômetros distante daqui. Veio de uma prole de oito filhotes. Sua mãe, a Costelinha, apesar do nome, tem pedigree Dachshunds. Mesmo sob o “peso” do pedigree, até hoje ela não conseguiu explicar como ficou prenha, e nem apresentar o felizardo cão que a seduziu. Ela vivia, e vive, num quintal fechado por grades, do qual não pode sair a não ser sob a vigilância de uma das suas donas. Mesmo com as grades, não se sabe como, um dia ela demonstrou estar prenha. Não chegou a ser um escândalo, apenas um mistério.
Suas donas, naquela época, viviam numa casa bem em frente da Faculdade na qual minha filha estudava. Eram, e são, amigas.
Com o inesperado “caso” da Costelinha, logo houve a preocupação de ver com quem ficaria cada um dos seus filhotes, presumivelmente “bastardos”, ou melhor, sem o vínculo do pedigree; motivo pelo qual não seria recomendável tentar a venda dos mesmos. À minha filha foi prometido um machinho. Ela nos deu a notícia da “gravidez” da Costelinha, e o aviso de que um dos filhotes viria para casa. Hummm! E esse “Hummm” foi geral em casa.
Chegou o grande dia, nasceram, e houve a partir daí a distribuição dos filhotes. Diz minha filha, que ela não o escolheu, que foi escolhida por ele. Acreditamos. E disse até, que já tinha um nome.

A Costelinha é paparicada por muita gente. Sua donas, universitárias, cuja família mora em Santa Catarina, têm um extenso rol de amigos, também jovens universitários, que fazem da sua casa um ponto de muitos, cordiais e descontraídos encontros. Então, foi assim que o nome de cada filhote foi plenariamente discutido. Ao figura aí ao lado foi apresentada uma lista de sugestões; até nomes próprios de pessoas surgiram. Tantos foram que mais dúvidas surgiam por qual optar, dizia minha filha. Até que, a partir de um nome sugerido, ela escolheu apenas a primeira sílaba, nos disse.

Mô. Isso mesmo: Mô!. Esse é o seu nome.
Quando minha filha nos deu a notícia da escolha, e do nome que lhe havia dado, eu, prontamente, torci o nariz e disse ter entendido tudo. Que Mô seria apenas a abreviação de “Morto de fome”. Riu, e disse que não, que iria cuidar bem dele, que era uma gracinha. Céus! Qual cãozinho ou bichano não é uma gracinha quando novo, não? Outros animais também o são, mas, quando crescem?!
Concordado, está concordado. O jeito era esperar o bichinho ser desmamado e vê-lo se apresentar para a família, isto é, sua matilha.

Chegou, afinal, o grande dia. Eu precisava mesmo ir a Toledo. Então, ficou combinado que eu passaria na “casa” da Costelinha para trazer o Mô para sua nova moradia, isto é, para a sua nova matilha. Minha filha lá estaria me esperando.
Quando lá cheguei, logo fui apresentado a uma coisa fofa que ela trazia nas mãos. Uma lindeza, mas, “algo” esquisito pairava no ar. Ela me disse que aquele não era o Mô, que eu certamente havia passado por ele, que se encontrava dando uma voltinha pelo quintal. Ela estava me apresentando a Belinha; esse era o nome da coisa fofa em suas mãos. E me explicou.
O rapaz que ia ficar com a Belinha, nesse espaço de tempo teve que se mudar, e o lugar onde morava agora não oferecia condições para criar um animalzinho. E mais, dizia ela: dentre os filhotes, os dois haviam criado uma forte “amizade”: o Mô e a Belinha. Eram inseparáveis, dizia.
Fui ver o Mô, imaginando que poderia influenciar na escolha de um dos dois. Não, não que eu não tenha percebido desde o primeiro instante. Viriam os dois para casa: essa era a real questão. Não foi difícil encontrar o Mô, que dava suas trôpegas corridinhas pelo quintal, como que a despedir-se dele. Danadinho! Sabia que viria para casa e, de lambuja, traria seu melhor brinquedo – depois veríamos que não -, a irmãzinha preferida.
Claro! Tentei meter a minha esposa no meio, se ela não deveria ser consultada antes. Filhos!!! Quem os têm sabe quão persuasivos são. Minutos depois éramos quatro na viagem em direção à nossa casa: dois humanos e dois caninos. Posted by Picasa

quinta-feira, 27 de julho de 2006

Chronos, devorador de vidas e de sonhos. - 7



(Parte 7)

Era um almoço que antecedia uma partida. Não havia o mesmo clima de alegria do almoço da véspera, mas, nem por isso ele foi menos prazeroso; haviam delícias a serem degustadas, tudo resultado da imensa cordialidade com que fomos recebidos por esses novos amigos. Somente não foi tão demorado. Assim que pode, meu pai, ajudado certamente, começou a preparar a nossa volta.
Assim que tudo ficou pronto, partimos. Sabíamos o que nos esperaria na volta, e todos ali bem o compreendiam.
Leonor nos acompanhou até a porteira que dava acesso à estrada. Abriu-a. Quando passamos, ela a fechou e se colocou sentada na parte mais alta da mesma. Dali nos acenava e, aos gritos, nos desejava boa viagem, e pedia por breve regresso. Viu-nos desaparecer na primeira curva.
Como meu pai havia previsto, fomos parados várias vezes. Recebia novas encomendas, e procurava, da melhor maneira possível, fazer com que seguíssemos nossa viagem para casa. O cavalo, depois confirmou meu pai, reconhecia o caminho de volta, e apressava a marcha. Assim, chegamos em casa com alguma claridade da tarde que há muito declinara. Enquanto minha mãe e irmã preparavam o jantar, nós, os homens, preparamos a carroça para que papai pudesse voltar ao seu trabalho junto com a madrugada seguinte.
Passaram-se os meses. Em todas as vezes que meu pai fazia o itinerário que atingia a casa de Leonor, de lá trazia bilhetes e cartinhas. Foi ela, Leonor, quem iniciou essa troca de cartinhas e bilhetes; vários e várias a cada viagem. A primeira cartinha, dizia ela, a escrevera assim que retornara à sua casa. Depois que nos viu desaparecer na curva da estrada, ela ficou sentada por muito tempo onde estava, dizia, pensando em tudo o que acontecera nesses dois dias. Depois, retornara à casa e pôs-se a escrever aquela que seria a primeira das muitas cartas e bilhetes que eu dela receberia. Já nessa primeira cartinha ela dizia contar os dias até que ali fôssemos novamente. A todas eu respondia, mesmo sentindo-me um pouco desconcertado com a minha um tanto desleixada caligrafia, se comparada ao capricho das suas letras.

Era um outro ano. Depois de postergar algumas vezes, por motivos justos e variados, meu pai, finalmente, conseguiu levar-nos novamente à casa de Leonor. Não haveria justificativas dessa vez. Aconteceria o casamento do primo mais velho de Leonor que, quando lá fomos, já estava noivo. A noiva, pelo que sabíamos, morava em São Paulo, para onde a família se mudara algum tempo atrás. Ele se casaria e, depois, iria para a capital, para ali tentar uma outra vida.
Tomadas todas as providências, e o almoço tendo sido preparado bem mais cedo, partimos assim que almoçamos e as coisas foram sendo arrumadas. Era perto do meio-dia da sexta-feira. Havia uma razão, desta vez, para que fôssemos na sexta, e não no sábado. Papai, por saber como ninguém preparar assados, era freqüentemente convidado para conduzir essa parte da cozinha nos festejos de casamentos de parentes e conhecidos, o que fazia com o maior desvelo, prazer, e capricho. Haveria muito que fazer, numa parte da noite dessa sexta-feira, e por todo o dia seguinte até o jantar do casamento. Era esperado um grande número de pessoas.

Habitualmente, nesses casos, ainda mais quando se tratava de pessoas que moravam no campo, os vizinhos e convidados enviavam grande número de aves gordas, leitões, partes de cabritos, e outras carnes, para que a festa fosse de todos, animada, e houvesse farta alimentação para os parentes e convidados que viessem de muito longe. Assim, muitas festas chegavam a iniciar já na sexta-feira, véspera do casamento, e só terminar, talvez, no domingo à noite.
As bebidas eram consumidas numa quantidade assustadora. Lembro-me de pilhas e pilhas de sacos contendo cervejas e refrigerantes. Os padrinhos, e os convidados mais abastados, faziam questão de doarem sacos e mais sacos de bebidas. Essas, vinham em grossos sacos de aniagem, contendo sessenta garrafas em cada saco. Cada garrafa era envolvida por uma espécie de cartucho de palha de trigo ou outro material semelhante, densamente costuradas entre si, e que protegiam cada garrafa. Haviam os homens que tinham enorme prática de cuidar das bebidas; de refrescá-las, e cuidar dos vasilhames que deveriam ser devolvidos aos fornecedores, intactos. E faziam isso com enorme prazer. Eram festas memoráveis.

No casamento do primo da Leonor, portanto, quando lá chegamos, embora fosse a véspera do mesmo, já havia um delicioso clima de festa que havia começado logo pela manhã.

terça-feira, 25 de julho de 2006

Tessituras policromáticas

Série: Indianas (2003)

A graça, a leveza dos traços sígnicos do corpo-mulher, a leveza da alma.
Progenitora da humanidade, fecunda coadjuvante do Criador.
Seara cósmica, labor para a vida e,
nunca, apenas mulher. Posted by Picasa

domingo, 23 de julho de 2006

A despedida





Normalista,
estudante,
Hortênsia parte
para cidade distante.

Meus passos, adolescentes e apressados,
levam meus olhos que a querem ver
uma vez mais.
Meu coração, acelerado, arde, consumido
pelo prenúncio da sua longa ausência.

No caminho, a moeda
por alguém perdida,
e por mim encontrada,
dá-me a esperança do assomo da sorte.
A recolho e,
rodopiante, lanço-a ao alto
e a recolho entre as mãos:
cara, verei a ti, Hortênsia,
uma vez mais,
antes que partas.

Abro as mãos, lentamente: coroa!
Desconfio da sorte e apresso os passos.

Por breve momento ainda
vejo Hortênsia,
que me vê, que sorri, que acena e,
pelo vento, envia-me um beijo que acolho,
com as mãos, junto ao peito.

A moeda, Hortênsia,
passadas décadas de desencontros,
ainda a tenho.

Não sei, hoje, o seu valor numismático.
apenas sei que, entre a cara e a coroa,
ela traz mil vezes mil,
as doces lembranças que tenho de ti,
toda vez que a recolho entre as mãos.

quinta-feira, 20 de julho de 2006

Chronos, devorador de vidas e de sonhos. (6)

(Parte 6)


Terminado o café, eis que Leonor convida-me a segui-la.
Pegando apenas uma velha manta de encilhamento e uma boa espiga de milho do paiol, levou-me a um pasto um pouco retirado. Ali chegados ela chamou por um nome que me escapa da memória. Assomou por de trás de alguns arbustos uma égua, branca, salpicada de pequenas manchas acinzentadas, crina longa, um belo animal. Leonor debulhava a espiga de milho, e o animal devorava os grãos, com prazer, retirados da cova da sua mão. Depois, com apenas um leve toque de mãos, Leonor conduziu o animal até próximo a um tronco por ali caído; jogou a manta sobre o lombo da égua e montou-a. Acenou para que eu fizesse o mesmo, na garupa.
Assim, sem cabresto e rédeas, ela conduzia o animal na direção que queria, apenas pressionando uma das mãos no pescoço do animal. Fiquei encantado com essa intimidade. Íamos a passos lentos, sem pressa de chegar a lugar algum. O prazer era estarmos juntos, e Leonor a tudo que via, apontava e falava. Assim fomos até atingirmos um ponto no alto de uma colina. Havia uma cerca de divisa, terminavam ali as terras das suas famílias.
De onde estávamos o horizonte parecia distante. Uma bela paisagem estendia-se à nossa frente. Ela apontou-me numa direção. Ao longe, vislumbrei um enorme e decadente casarão. Um pouco retiradas, havia duas linhas de muitas moradias. Mesmo daquela distância, percebia-se que a maioria estava em ruínas. Ali mesmo Leonor contou uma breve história desse lugar.
Naquele casarão habitara, num passado não muito distante, uma das famílias mais abastadas da região. Haviam sido proprietários de um extenso cafezal, e criação de milhares de cabeças de gado. Todas aquelas casas haviam sido ocupadas por colonos agregados que de tudo cuidavam. Uma crise com o café, e uma tragédia acontecida com a família, da qual não sabia exatamente o quê, em poucos anos levou a família a uma ruína irrecuperável. Aos poucos foram se desfazendo de partes das vastas terras que possuíam. Aquelas, agora pertencentes às suas famílias, fora uma fazenda desmembrada e vendida. Adquiriram essas terras do novo dono que delas se desfez para ir para outro Estado, em busca de terras mais vastas. A fazenda antiga, da qual o casarão havia sido uma rica sede, era o que se via agora. Os remanescentes da antiga família ali ainda moravam quase que num regime de subsistência. Nunca mais se reergueram. Eu, enquanto Leonor narrava essas coisas, lembrava-me do que o tempo fizera com a minha família, dos sonhos ligados à terra, desfeitos.
Dali saímos. Ela queria mostrar-me algo mais. Um pequeno rio que praticamente fazia divisa com suas terras. Ela gostava de ir lá pescar, dizia. Por causa da falta de chuvas, dizia, nesta época em que estávamos nenhuma pescaria seria boa, mas, mesmo assim, ela queria mostrar-me seus lugares preferidos.
No caminho, de repente, Leonor fez o animal parar. Furiosa, descendo do animal, dizia que seus primos a achavam boba, pensavam que a enganavam. Vi-a encaminhar-se na direção de umas moitas de capim. Ali, abaixando-se, ela libertou um nhambu que fora aprisionado numa arapuca. Esta ela a destruiu. Dizia querer ver a cara dos seus primos. Ela não admitia que eles fizessem essas armadilhas. Os animais, as aves, tinham direito de serem livres. Os primos diziam que gostavam de comer dessas aves silvestres, que as caçavam para comerem. Leonor, realmente furiosa, dizia que eles tinham muitos frangos gordos nos quintais, além de outros animais que lhes bastavam para se alimentarem.
Surpreendi-me com sua pergunta direta, se eu já fizera isso alguma vez, se capturara animais com arapucas. Respondi que não, e dizia a verdade, mas não lhe revelei que, enquanto morávamos na última fazenda, adorava acompanhar meu pai nas suas caçadas domingueiras. Saíamos bem cedo, e voltávamos com o embornal repleto de aves abatidas, que eram preparadas para o almoço. Deliciosas, como minha mãe as preparava. Naquele tempo, para mim era normal; eram aves semelhantes às que tínhamos em casa, embora vivessem na natureza.
Creio que foi ali, naquele instante, e plantada por Leonor, uma fecunda semente que faria com que eu viesse a adquirir um profundo, quase sagrado respeito pela Natureza que até hoje medra na minha alma.
Depois de vermos o rio, voltamos. O almoço já estava servido Posted by Picasa

terça-feira, 18 de julho de 2006

Apresentando um amigo - 2

(parte 2)


O segundo, fez parte da minha vida; o primeiro a entrar nela.
Já rapaz, certo dia meu pai chegou à casa dizendo que minha avó teria um presente para mim; que eu fosse buscá-lo. Assim ela exigia. Passaram-se anos desde Campeão, meu avô era falecido, e minha avó morava com um dos filhos, em São Paulo.
Reservei um sábado para isso. Lá chegando, fui apresentado a uma bola fofa do mais puro algodão, com dois olhinhos e o focinho, pretos. Vivaz, brincalhão. Minha avó já havia providenciado uma caixa, com um pequeno orifício em cada lado, para ventilação. Eu dependia de ônibus.
Deveria tomar um no bairro São João Clímaco, onde ela morava, e ir até o Sacomã, e dali tomar outro ônibus que me levaria a Santo André, minha cidade. Assim pensei fazer.
Embarquei no primeiro ônibus. Mal ele entrou na conexão do seria o final da Via Anchieta, o cãozinho resolveu manifestar-se. Prontamente o motorista encostou o ônibus, e sem saber a quem, disse que era proibido o transporte de animais. Desci, desculpando-me.
O mais sensato seria voltar à casa da vovó, que ficava muito mais próxima, lá deixar o animalzinho, e providenciar outra forma de levá-lo à casa. Preferi o desafio, e não me fiz de rogado.
Numa das laterais mais estreitas da caixa, alarguei o buraco, onde prontamente surgiu o focinho e dois olhinhos vivazes, que dali não se afastaram até chegar em casa. Se tirou algum cochilo, foi ali mesmo. Ele descobria o mundo, pensava comigo, e fazia-lhe agrados.
Para quem conhece a região Metropolitana de São Paulo, sabe o que fiz. Desci até o final da Via Anchieta, no Sacomã, e dali tomei a pista na direção de São Caetano do Sul. Atravessei essa cidade e mais três bairros de Santo André, até chegar ao meu bairro e à minha casa.
O pessoal confessou-se preocupado com a demora. Expliquei o que aconteceu e me acharam doido. Quando retirei o pequeno da caixa, começaram a perceber que tinha valido a pena. Ele se sentiu em casa.
A primeira coisa que fez foi esvaziar a bexiga, deixando abaixo de si uma enorme poça. Pontos para o pequenino. Depois de tanto tempo, a caixa estava seca, e com isso ganhou nossa admiração. A partir daí, demonstrou-se cuidadoso quanto aonde depositar seus excrementos.
Foi-lhe apresentada uma vasilha com leite morno, que sorveu rapidamente. Depois, sua ocupação foi a de mostrar ao que viera. Brincar com todos da casa, e escolher os chinelos da minha mãe como algum intruso no seu “novo território”, e tentar espantá-lo com seus latidinhos. Foi uma graça. Não resistiu por muito tempo. Cedeu ao sono, enfim. Numa pequena e velha bacia de plástico, foi-lhe improvisada a caminha.
Quem mais ficava com o cãozinho era minha mãe. Ela que o tolerava a enroscar-se aos seus pés, e ir aonde ela fosse. Brincava, rosnava e latia para os seus chinelos, e a divertia com isso. Ela, ao descer alguns degraus para ir à lavanderia, não precisava ajudá-lo, pois ele os descia aos trambolhões. Para subir, claro, ela o levava consigo até depositá-lo no chão plano. Assim construíram sua amizade. Zelosa amizade.
Foi dessa convivência que, nos primeiros dias, recebeu o nome: Banzé. Nada a ver com o peraltinha das histórias em quadrinhos e do desenho animado. Era Banzé no sentido de bagunceiro, mesmo, como dizia minha mãe.
Foi um bom amigo de todos da casa, dos meus sobrinhos, que freqüentemente nos visitavam.
Dos banhos semanais, quem deles se ocupava era meu pai, que o trazia reluzente na sua brancura.
A única pena era o espaço, sempre reduzido. Bem ao contrário do Campeão que parecia ter o mundo à sua disposição, mas que pouco arredava os pés de onde vivia sua matilha humana.
O Banzé foi animalzinho bem cuidado, e estimado pela sua índole alegre, vivaz, sempre disposto a uma brincadeira, e obediente nas horas necessárias.
Morreu de velho, sem nunca ter conhecido a velhice. Assim era esse meu primeiro cãozinho.
Pena que as fotos dele se perderam. Puro branco no preto. Posted by Picasa




A caçada


Silêncio na sala,
na casa.
O felino avança,
lento, na espreita.

Viu o rato,
saliente,
sair da toca. O
segue levado
pelo olfato.

Silenciosamente,
avança.
Busca o rato.

Pensa na pança.
Lambe o beiço.

Vê o rato.
Salta.
Rato foge.
Gato mia.
Perdeu o almoço.

sábado, 15 de julho de 2006

Tessitura cromática

Alegorias de Angola VI(2003)


Um povo que se ornamenta para a vida, assim como suas mentes se ornamentam para a liberdade e para o direito de se constituir em Nação. Posted by Picasa

quarta-feira, 12 de julho de 2006

Salada poética!



É o seguinte: se você está saboreando uma laranja, por favor, não me fale das tuas sensações. Prefiro que você me dê uma fatia, um gomo ao menos, e permita que eu sinta as "minhas" sensações. Daí, sim, eu saberei que gosto a laranja que você saboreia, tem. Você gosta dela azeda? Tudo bem, nisso você não está só. Conheço pessoas que detestam laranjas doces. Eu as prefiro às azedas.

Então. Dizem, que de uma poesia, seu autor não deve dizer nada. Que ela se entenda lá com o seu leitor, e que ele sinta ao lê-la, as "suas" sensações, tenha lá seus encontros particulares com os sabores literários. Também penso assim.

Porém, aqui vou estraçalhar essa regra, e vou jogar por terra a minha crença e o que penso a respeito. Sei o que estou fazendo. Às vezes, para se ir adiante, é preciso esquecer certas regras e determinadas crenças.

Por exemplo: ouvi inúmeras vezes que, para "entender" um texto, é preciso decifrar o que há nas entrelinhas. Gozado! Eu penso que nas "entrelinhas" de um texto sempre há um espaço em branco, tal como aqui neste texto (embora aqui seja preto). Ali, como aqui, só haverá alguma coisa se eu borrá-lo com um marca texto, ou sublinhar algo, ou ali eu fizer alguma outra marca qualquer. (Espera aí! Eu sei o "sentido" que as pessoas dão ao termo "entrelinhas". Por favor, eu sei disso, eu compreendo isso.)

É que eu me recuso a pensar assim. Eu penso que tudo o que um texto diz está contido na poderosa virtude das palavras em desvendar sentidos, significados. São elas, as palavras e as relações que elas tem entre si, e as mágicas relações sígnicas contidas na palavra, na sua forma, na sua sonoridade, e em toda a maravilhosa essência que a constrói, é que dão sentido e significado ao texto em suas variadas formas. São elas, as palavras, é que "falam".

Você deve estar pensando: o que tem a laranja com o que esse cara está dizendo. Não é mesmo?

Tudo bem! Ouça o barulho. Estou quebrando a regra apontada acima.
Creia! Tenho lá meus motivos para fazer isso. Suporte, tolere. Por favor! (gostou do pedido?)

Então, lá vai o barulho do quebra-regra.
Leia a poesia abaixo.



Essa Maria



Água quente.
Detergente.
Esponja macia.
Precavida patroa.

Na cozinha,
pança na pia,
brinca a criada,
espoca a bolha.
desprecavida Maria.

Criada levada,
bem descuidada.
Brinca e trinca,
o prato preferido da patroa.


Leu? Ótimo.
Grande tema, você diria. E acrescenta: quem não entenderia o que "ele" está dizendo com essas besteiras feitas pela Maria. Pfu!!!
Tudo bem, pelo "Pfu!!!". Eu mereço.
Mas é o seguinte. Eu não queria dizer nada, muito menos elogiar a tal patroa, e nem descer a lenha na pobre da Maria. Tudo bem que "não fica bem" para um cara da minha idade se meter em brincadeiras. Que posso fazer, se às vezes quero brincar? Brinco, e pronto: tá brincado.

É que eu queria só reproduzir os sons de "alguém" lavando louças, principalmente quando faz isso a contragosto e, não dá outra, quebra louça. Daí os "prec", "pat", "pan", "pi", "brin", "cri",
"poc", "bo", "prec", "cri", "brin", "trin", "prat", "pref", "pa". Uma infernal barulheira. Não é lá muito semelhante ao barulho da prataria, talheres, panelas, e outras coisas sendo lavadas à pia, mas é o que saiu.
Só isso. Grande coisa, né?

segunda-feira, 10 de julho de 2006

Apresentando um amigo

(parte 1)


Antes de falar do figura canina que aparece aí ao lado, preciso falar de outros dois cães.
Campeão! Esse é o nome do primeiro.
Esteve com a família do meu pai, muitos anos antes de eu ter nascido, e morreu de velho. Sua história foi contada por décadas no seio familiar. Era, ou viria a ser da raça Fila Brasileiro, enorme quando adulto, mas bom de coração canino. A pelagem, pelas descrições e comparações que eu ouvi, seria um pardo claro, algumas manchas alongadas e escuras por todo o corpo, uma faixa branca no peito, e que se estreitava ao se aproximar do maxilar inferior.
Talvez por perceber que meu avô era o chefe da “matilha” humana à qual pertencia, foi com ele que o Campeão desenvolveu maiores intimidades, e companheirismo.
Quando já crescido, e na primeira vez que meu avô permitiu que o cão o acompanhasse nas suas idas à cidade, o que sempre fazia montado no seu cavalo predileto, Campeão causou boa impressão pela sua índole fiel. No trajeto, postou-se ao lado do cavalo, e o acompanhou na mesma velocidade, sem se desviar para nada. Contou meu avô que, de propósito, alterava a velocidade do cavalo, chegando mesmo a correr ou ir a passos lentos. Campeão logo se adaptava à velocidade da montaria na qual ia o seu "líder". Volta e meia olhava para cima, para meu avô, como a dizer: - Estou aqui companheiro.
Chegando à cidade, meu avô prendeu as rédeas à sela e, a corda que trazia para a finalidade de amarrar o animal, prendeu-a ao pescoço do cavalo. Intuitivamente, contou ele depois, enrolou a outra ponta no chão e ordenou ao cão que sobre ela se deitasse, o que prontamente fez.
Indo primeiro à barbearia, enquanto aguardava sua vez, postou-se num lugar de onde pudesse ver os dois animais. Impressionou-o a passividade do cão. Depois, fez as demais coisas que havia planejado.
Horas passadas, ao retornar para onde estavam os animais, percebeu que Campeão não arredara pé dali, o que foi notado por algumas pessoas, somente mudando posições devido ao cansaço e, talvez, motivadas pelo tédio da espera. Foi motivo de orgulho para o chefe do clã Ferreira, português de boa gema como dizia de si mesmo.
Montou e tomou o caminho para casa. A poucas centenas de metros da cidade, antes de atravessar um córrego a vau, como era usual antigamente, parou para o cavalo beber água. Campeão saciou uma sede que deveria tê-lo atormentado demasiado. Nova boa impressão e mais ganho de simpatia do novo amigo.
A partir daí, meu avô sempre levava consigo o fiel companheiro. Em reconhecimento à fidelidade, procurava um lugar onde o cão pudesse estar sempre à sombra; dispunha água ao seu alcance, e ficava despreocupado. Assim Campeão foi adquirindo admiração e respeito, em toda a região, e também na cidade.
Com essa índole, Campeão foi construindo sua história.
Era o cão da família Ferreira. Posted by Picasa

domingo, 9 de julho de 2006

Chronos, devorador de vidas e de sonhos - 5

(Parte 5)


O almoço foi longo e prazeroso. Além da comida farta, havia o clima de alegria. Esta, a causa primeira da duração e do prazer. Para o almoço, cada família se esmerara na preparação das carnes: havia leitão assado; frangos; quartos de cabrito; carnes de panela, tenras, macias, e uma profusão de acompanhamentos. Delicioso. Leonor sentara-se ao meu lado, indicava-me o melhor a ser servido, sorria, ria, e tudo nessa pequena me causava encanto. Eu teria passado o dia ao seu lado, sem preocupar-me com o que comer. Terminado o almoço, as moças se prontificaram a tudo arrumar. Minha irmã entre elas.
Para seu entretenimento, haviam construído duas canchas: uma para o jogo de malhas, e outro para bocha, lado a lado. Esta foi tomada pelos adultos. Nós, os menores, jogamos malhas. Qualquer coisa era razão para divertimento. Claro, eu e Leonor, à escolha dela, fizemos três partidas, e ganhamos duas. Não se sabia de onde vinha tanta alegria, em coisas tão simples. Talvez resultado do gozo simples da vida.
Num dado instante, novamente Leonor tomou-me uma das mãos e me arrastou consigo. Queria mostrar-me um lugar que, dizia, era só seu. Encaminhamo-nos para o pomar e paramos diante de uma frondosa mangueira. Não foi difícil escalá-la. Havia, num ponto de um dos seus grossos galhos, um arranjo que parecia ter sido feito por encomenda. Naturalmente surgira uma junção que permitia sentar-se com segurança e conforto, tendo como encosto dois outros galhos. Esse, disse Leonor, era o seu lugar predileto, achara-o por acaso. Quando queria ficar só, quando queria pensar, era para ali que ela vinha. Às vezes, dizia, era ali acomodada que fazia os deveres escolares, e lia com melhor prazer. Ela me fez acomodar-me no seu lugar predileto, e posicionou-se numa junção em forquilha, bem à frente. Insisti para trocar de lugar. Ela recusou veemente, e disse que estava adorando ver-me ali, desfrutando do seu lugar preferido.
Conversamos sobre muitas coisas. Dos estudos, sabíamos algumas histórias retiradas dos livros comuns de estudo. Delas nos lembrávamos, e as recontávamos reinventando-as. Falamos das nossas ainda pequenas vidas, mas tantas coisas já vividas. Tudo muito divertido para apenas duas crianças que ainda éramos. Passamos horas agradáveis ali. Apesar de ter notado que Leonor não estava tão bem acomodada quanto eu, em nenhum momento aceitou a troca. Dizia que achava bom eu ali estar, e que na próxima vez que ali se sentasse, podia melhor ter lá suas recordações. Tão meiga e gentil essa pequena.
O entardecer veio logo. O jantar foi servido, e as brincadeiras continuaram.
Os adultos se ocuparam das suas conversas. Os menores, cada qual obedecendo aos reclamos das suas idades, faziam o que lhes apeteciam, tudo iluminado pela clara luz de lampiões a querosene.
Num dado instante Leonor afastou-se e retornou com duas mantas. Pediu-me que a acompanhasse. Afastamo-nos um pouco da claridade dos lampiões, e Leonor estendeu uma das mantas sobre um relvado macio. Ali nos deitamos. Com a outra manta, cobriu-nos; para proteger-nos do sereno, dizia. Assim, deitados lado a lado, tendo apenas a cabeça e os braços livres, podíamos contemplar a noite límpida, e a profusão indescritível das estrelas. Primeiro houve algum tempo de silêncio. Ficamos olhando as estrelas e ouvindo a vida absorver nossos queridos familiares, distantes poucos metros. Era reconfortante estar ali. Depois começamos a falar, cada qual da sua admiração por algo tão profundo como uma noite dessas, e dos mistérios que julgávamos estarem escondidos naquela profusão de estrelas à nossa frente. A lua não aparecera. Já a havíamos visto durante o dia como uma pálida mancha esbranquiçada e incrustada no também límpido azul do céu.
Apesar da delícia desse convívio, o sono chegava insinuante, convidativo para uma noite repousante.
Estava reservado para a minha família um lugar acomodado numa das casas, para que não ficássemos separados. Mas Leonor tanto insistiu para que eu dormisse na sua casa, que os adultos cederam. Um dos seus irmãos fez a troca comigo. O sono veio profundo, relaxante.
Acordei com as conversas alegres, e com o delicioso aroma do café recém preparado se espalhando pelo ar. Também nesse momento, cada qual trazendo coisas das suas casas, o café da manhã foi tomado numa reunião não menos descontraída. Ali ficamos sabendo que o almoço seria antecipado, pois meu pai queria iniciar a volta para casa o mais cedo possível. Posted by Picasa

sexta-feira, 7 de julho de 2006

Tessituras sobre tela

Essência da Luz! (2000)

À Luz!
À luz que a tudo revela.
É a luz que baila nas flores, nos campos e nos jardins, a polifonia de todas as cores.
É a luz, no arco-íris das auras, que revela a sintonia das almas.
E da aquarela feita Terra, e ela, a luz, que toda a vida desvela.
Das galáxias, o que delas nos revela, senão ela?
É a luz que cria, que vigia.
É ela, trêmula e amarela luz da vela, ou cintilante estandarte da estrela distante.
À Luz! Posted by Picasa

Tempo... Tempo...

 Cadê o tempo?
Eu o tenho igual a você.
Como diria a querida Bia.
"Há muito bolo, e pouco glacê"

Esta semana está assim...
uma correria
E o bolo?
O bolo falta para mim.

Estou dizendo que não esqueci de fazer novas postagens, como as penso fazer.
Então, este pequeno jogo de palavras, não o veja como uma cria.
É apenas um aviso de que há coisas por vir, mas a seu tempo que, como você vê,
nesta semana, para mim, está escorregadio.

segunda-feira, 3 de julho de 2006

Tormenta




Sibila o vento.
Velozes vozes,
Subindo a encosta,
Rompendo o silêncio.

Amarelecidas.
Fugidias folhas secas,
Serpeiam por entre os esguios troncos,
Fugazes viajoras.

Voam
Buscam o cimo.
Despencam no abismo além.

Vozes ferozes do vento forte,
Anunciam vibrantes,
A morte que vem.



sábado, 1 de julho de 2006

Chronos, devorador de vidas e de sonhos. ( 4 )



( Parte 4 )

Fomos, afinal. Tudo acertado antes, numa sexta-feira, chegando um pouco antes do anoitecer, meu pai retirou o engradado da carroça, lavou-a, e a preparou para sairmos na madrugada de sábado. Um amigo, vizinho, se prontificou em fazer a entrega das aves e ovos ao caminhão que viria na tarde desse sábado.
Saímos algum tempo antes do sol nascer. Na medida em que nos afastávamos da cidade, clareando o dia, ficamos sabendo o quanto meu pai era querido e reconhecido. Não raramente, principalmente com os moradores mais próximos da estrada, a parada era quase obrigatória. Assim que o reconheciam, paravam-nos, e ali eram gastos alguns minutos de apresentações e rápido bate papo e, às vezes, pelo menos, uma xícara de café. Até novas encomendas surgiam. Tantas paradas fizemos que chegamos ao destino num horário próximo do almoço. Víamos, o quanto meu pai ia longe.
Fomos recebidos num clima de festa, com todas as famílias reunidas, que confessaram estarem apreensivas com a tardança da chegada. Houve de imediato uma empatia muito grande. Havia desde crianças ainda de colo a quase rapazes e moças. Os adultos se ocuparam dos meus pais, tratando-os como de casa. Meus irmãos logo se adaptaram aos zelos educados com que foram recebidos pelos da sua idade. Comigo aconteceu algo diferente. Seu nome, Leonor.
Praticamente da minha idade, tinha os olhos vivazes, de um castanho claro; um sorriso fácil, encantador; os cabelos, levemente ondulados e cortados um pouco acima dos ombros, eram alourados e emolduravam suas faces de traços delicados. Um encanto de menina perdida naqueles confins de terra. Entre nós aconteceu um fascínio mútuo. Apesar de haver meninos da minha idade, foi ela quem se ocupou de mim, o que fez com que surgisse uma franca e doce amizade e, depois, cumplicidades.
Mal acabadas as apresentações, assim que pode, ela segurou-me pela mão e praticamente arrastou-me. Dizia estar ansiosa para mostrar-me algo. Agora livres, corremos por um caminho que cortava um grande e belo pomar, comum a todos. Ao sairmos do pomar ela parou. Fiz o mesmo. Quase sem fôlego, com o indicador da mão direita ela apontou-me algo que estava um pouco à distância, num declive de uma colina voltado para nós. Olhei extasiado. Lá estava o mais belo exemplar de ipê-amarelo que eu jamais vira, em plena floração. Justamente a árvore que eu mais adorava ver florida, e da qual hoje tenho dois exemplares no meu quintal. Pelo caminho, claro que eu havia visto vários exemplares, também floridos, mas inigualáveis a este que se mostrava exuberante. Aproximamo-nos. No chão, já começava a se formar um tapete amarelo ao redor do tronco, formado pelas flores mais velhas, caídas. A floração, de tão densa, mal permitia ver nesgas do céu do outro lado da copa da árvore. Leonor disse que ela jamais florira assim, por isso a sua ansiedade em mostrá-la, pois a achava a árvore mais linda que existia. Começavam por aí todas as nossas cumplicidades nos gostos e prazeres no que fazer juntos. Uma leve lufada de vento fez cair algumas flores, e Leonor disse que, se pudesse, faria algo para que nunca essa árvore perdesse uma flor sequer, então ela seria sempre assim, florida e bela. Lembrei-me de algo que acontecera comigo na escola. Numa aula de desenho, eu havia criado um bem elaborado tronco de árvore. Sua copa, toda amarela, matizada, contrastava com o chão verde das gramíneas. A professora, vendo o desenho, replicara se as folhas não deveriam ser verdes. Mostrei-lhe, no alto da folha, o título: Ipê-amarelo florido. Quando o devolveu, logo abaixo da nota máxima, um elogio: Parabéns! Um belo desenho! Saudosa professora Judite.
Nesse instante, assomando do caminho que vinha pelo pomar, um dos primos de Leonor nos chamou para o almoço que já estava servido. Posted by Picasa