quarta-feira, 30 de agosto de 2006

Tenho a minha "Obra Inacabada"

Estudo que pretendi realizar a partir de A Última Ceia, obra de Philippe de Champaigne (1652) 158x233 cm.

O iniciei em 2003. Não fiquei satisfeito com os rostos dos apóstolos ao fundo, e muito menos com o rosto de Jesus, o qual está iniciado. Recuso-me a mostrá-lo aqui.
Aguardo um momento de retomá-lo, quando pretendo refazer os rostos, ou, então, deixá-los assim mesmo, como se fossem rascunhos de algumas rostidades perdidas no tempo.
Pessoas que viram esse estudo, dizem que não há nada demais com os rostos.
Sei lá. Acho que eu poderia fazer algo melhor, inclusive em algumas mãos.
Agora, três anos depois, fico na dúvida se termino esse tal estudo.
Eu o iniciei nas dimensões 78x115 cm.

E então, termino, ou não termino. Posted by Picasa

domingo, 27 de agosto de 2006

Apresentando um Amigo - 5

(parte 5)

Creio que ela pensava que as pessoas que passavam pela rua seriam como o Mô, ou como nós: tolerantes.
Apesar dos nossos cuidados quando estavam soltos, ela adotou o péssimo hábito de latir para as pessoas que passam por nossa rua. E algumas pessoas realmente detestam isso. Cuidávamos para que ela não fizesse isso, a repreendíamos tentando ensiná-la.
Bem, fazia exata uma semana que ela havia parido os filhotes, eis que saiu para dar uma das suas voltas. Poucos minutos depois retornou, ganindo, desesperada. Prontamente a socorremos, pensando ter sido agredida, atropelada, levado uma pedrada. Se ela voltou correndo para casa, antes fosse algo semelhante que a tivesse atingido. Logo estaria bem, pensamos.
Mas, não. Sabe-se lá, quem, atirou-lhe um pedaço de carne envenenado, possivelmente por estricnina, veneno poderoso, disseram, e habitual das pessoas “adoráveis” fazerem uso disso para matarem ratos, etc. Ela vomitou o pedaço de carne. Não vomitou o veneno, porém.
Aqui onde moramos, em um caso de emergência, é preciso contar com os serviços de uma cidade vizinha daqui, a dez quilômetros. Era um sábado, justamente no momento em que os estabelecimentos comerciais estão fechando suas portas, inclusive as lojas-veterinárias. Apesar de nos dizerem depois que as chances teriam sido poucas, tudo fizemos para salvá-la.
Bem, se estou apresentando apenas o Mô, é porque ela não resistiu ao ataque fulminante dessa substância ou outra qualquer com a qual foi covardemente agredida.
Não sou maldoso, creio. Mas, se houver o “depois”, e se os animais também tiverem esse “depois”, eu gostaria que a pessoa que fez isso tivesse um “presentinho” no final do tal túnel de luz. A Belinha a estaria esperando ali, abanando o seu rabo como o fazia para nós e, a partir daí, por toda a eternidade, ela teria o seu “boneco” preferido com o qual brincar, sem se cansar. O que era para nós uma simples alegria, seria o tormento para essa mente que assassinou a Belinha. Maldade minha? Penso que não. Ela, enquanto viva, apenas latia para as pessoas – o que é detestável que fizesse -, mas nós a estávamos educando a não fazer isso. Todos devem ter percebido que esse seu comportamento nos desagradava, e estávamos preocupados em educá-la. Que nos dessem tempo, ainda mais que ela adotou esse costume depois de estar prenha. Quem sabe se defendia a sua prole?

Bem, ela se foi. Ficou-nos o Mô.
Ele sentiu a falta da irmã? Claro que sim, nós muito bem o percebemos. Prontamente, o que ele fez com os filhotinhos da irmã?
Alimentá-los, dar-lhes água e alguns cuidados, isso fazíamos com o maior desvelo. E a parte canina? O Mô se encarregou disso. Foi algo maravilhoso de se ver. Ele se posicionava como um “tio” ou pai zeloso, lambia-os para limpá-los. (Temos certeza de que o Mô não é o pai) Se afastavam da “caminha”, para lá os reconduzia, exatamente tudo como a Belinha tinha feito nos últimos dias; e isso não foi preciso que lhe ensinássemos. O fez por instinto, ou seja lá por quê o for. Belo cãozinho.
Sem a Belinha, e o necessário desmame, os filhotes foram logo distribuídos. As pessoas que os receberam se prontificaram a cuidar, cada um do seu filhote. E assim o fizeram.

Falemos, então, somente do Mô.
Pronto! Você que detesta animais de estimação, e execra os cães, se chegou até este ponto da leitura desta história, deve estar num exaspero incontido. Provavelmente deve até estar pensando lá contigo: pronto!... lá vem esse babaca, ou imbecil, dizer que o seu c ã o z i n h o, essa “coisa” peluda, só falta falar.
Não! Engano teu! Eu jamais falaria isso. Do Mô, eu jamais falaria isso. Posted by Picasa

quinta-feira, 24 de agosto de 2006

Tessituras poéticas

O rigor e a luz


Anterioridade!
Sou, antes de tudo,
aquilo que sou.
Inata é
minha identidade?

Cresço trilhando
um novo caminho. Ou,
as feridas, elas vêm
sempre do mesmo espinho?

Se busco Saber,
deparo, sempre, com
tudo que meu ser tem.
Partilho algum poder
de encontrar algo, caminhando?

O rigor e a luz!
Se tudo sei,
partir em busca
reserva-me algum Saber?
Se tenho que ir em sua busca,
qual caminho a ele me conduz?

Anterioridade!
Novidade!
Identidade!
Deus!...
De todas,
qual a verdade? Posted by Picasa

domingo, 20 de agosto de 2006

Chronos, devorador de vidas e de sonhos - 9


 

(parte 9)

A aventura desta manhã acontecia pela leitura. Entre as revistas havia umas edições recentes de O cruzeiro. As demais eram revistas especializadas em fotonovelas. Folheamos algumas O Cruzeiro. Havia um mundo feito por pessoas, acontecimentos, que tardavam a chegar até onde morávamos, não pelo rádio, mas daquela forma trazida pelas revistas; pelo rádio não nos chegavam fotos das pessoas, dos lugares, das coisas; aquele – o mundo das revistas – era um mundo que nos levava a outros mundos, encantadores. Pelo rádio, tudo isso ficava por conta na nossa imaginação, sem que ela fosse alimentada por tão belas imagens. Pelo rádio não era a mesma coisa. As revistas, e o que delas saltava, instigante, nos enchia os olhos e aguçava ainda mais a nossa curiosidade.
Depois, Leonor pegou uma das revistas de fotonovelas, e disse que uma das suas primas havia começado a sua leitura. Dissera que se tratava de uma bela história de amor. Leonor propôs que a lêssemos juntos.
Nesse caso, o banco improvisado mostrou-se providencial. Não foi difícil que ali nos acomodássemos lado a lado. Assim, poderíamos ler a mesma história, ao mesmo tempo. Antes de terminada a primeira página, Leonor propôs que, chegado o momento em que apareceria o casal de enamorados em torno do qual girava a história, ela faria a leitura das falas da mulher, e eu faria a do homem.
Essa leitura foi mais um acontecimento nas nossas vidas. As fotos das personagens, suas falas, a narrativa, nos envolviam num mundo mágico, indescritível.
A história se passava num tempo um tanto antigo; não muito, porém. Hoje, pelo que me recordo, talvez se situasse dos meados para o final do século dezenove. Era a história de um arrebatador caso de amor que surgira entre um homem de meia idade, e uma mulher um tanto mais nova que ele.
Este havia tido uma angustiante paixão na juventude, que lhe furtara parte dos seus melhores anos, e muitos dos seus sonhos. Depois, um pouco refeito, encontrara aquela que julgava ser o seu amor verdadeiro, e com a qual atravessaria todos os anos da sua vida. Poucos anos puderam viver juntos colhendo dias e dias de intensa felicidade. De início, a mulher sentira ter dificuldades para engravidar, e o que mais queriam para que sua felicidade se completasse, era dividi-la com alguns filhos. No início do terceiro ano após terem se casado, ela, por fim, engravidou. Não foi uma aventura tranqüila. Havia momentos de altos e baixos, e com sérios riscos de abortar. Resistiu, porém, até o parto. Terrível engodo do destino. Um dia depois de ter nascido, a criança, uma menina, estava morta. A mulher não suportou essa tragédia; definhou; e apesar do desvelo do apaixonado marido, dos amigos e familiares, três meses depois estava morta. O homem se entregou a uma vida boêmia, mais desesperado que desesperançado. O tempo, atroz, corria incessante, inexorável, e também parecia consumi-lo. Nada o consolava das perdas, das ilusões que tivera com o amor.
O custo dos desregramentos da vida boêmia, não tardou a aparecer. Logo, era ele que se entregava à arrebatadora sanha da tuberculose. Porém, algo parecia impedir que ele fizesse o seu caminho na direção da morte, como dizia a uns amigos, e a outros companheiros de infortúnios, homens e mulheres. Padecia atrozmente, mas a vida teimava em não entregá-lo à morte. E o tempo fluía, como que devorando tudo à sua volta.
Certo dia, depois de vencido pela insistência dos bons amigos que tinha, compareceu a um sarau. Havia estado por meses numa estância cujo clima era propício aos tuberculosos, onde recebera alguns cuidados que lhe proporcionaram alguma melhora. De lá retornara há poucos dias, e estivera mantido em recolhimento, longe do burburinho social da cidade. Chegado ao sarau, ao ver casais apaixonados, a felicidade rondando à sua volta, quis desaparecer. Procurou um local isolado, distanciado de mais esse insulto da vida.
Esta, ao que parece, implacável em torturá-lo, o enredou uma vez mais. Depois de um breve intervalo entre as belas músicas, uma canção começou a ser dedilhada ao piano. Eram notas envolventes, densas, que produziram nele um inexplicável arrebatamento. Não foi por si mesmo. Cada compasso da música atraia-o para dentro do salão. Parou na porta, e tudo e todos pareciam flutuar num enlevo indescritível.



sábado, 19 de agosto de 2006

Tessitura sobre Tela



Génesis (2005)

O.S.T. 60x80cm

É do útero das mulheres que a humanidade lança um olhar para as estrelas, e parte para o espaço cósmico interestelar.
É desse agasalho materno que todo homem e toda mulher parte para a aventura da vida.
É desse metafórico agasalho das antigas cavernas que a humanidade parte nessa viagem circundante de luz, rumo a tantas outras luzes.
E todos somos filhos da luz, revelados pela luz. Posted by Picasa

sexta-feira, 18 de agosto de 2006

Um dia muito especial



O registro feliz.
Eu acabava de assinar a Ata da minha Qualificação.
Isso significa que o meu Projeto de Pesquisa RESIGNIFICANDO LINGUAGENS NO ESPAÇO ESCOLAR: esboçando um outro mapa para  leitura e escrita de textos "foi julgado adequado para a obtenção de Qualificação ao Mestrado em Letras, e aprovado em sua forma final pelo Programa de Pós-Graduação Stricto sensu em Letras - área de concentração Linguagem e Sociedade", pela Egrégia Banca da Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE, Campus de Cascavel.
Na foto, da esquerda para a direita: Eu, e o meu sorriso feliz; Professora Doutora Eliane Cardoso Brenneisen; Professora Doutora Roselene Fátima Coito; Professor Doutor Acir Dias da Silva; Professora Doutora Beatriz Helena Dal Molin, minha Orientadora.

À Egrégia Banca, meus cumprimentos e agradecimento por suas inestimáveis contribuições para que a Tese final supere as minhas expectativas. Foram sábias contribuições.

À minha querida "Bia" que, antes de Acadêmica e Orientadora, é amiga e navegante, não cabe apenas agradecimentos, que sempre seriam poucos.
Antes, o sempre presente reconhecimento: A Bia, como navegante do Saber, raramente segue a rota dos faróis, pois que ela é daquelas pessoas especiais que vai á frente, sempre implantando inúmeros outros faróis que nos levam a novos mundos.  É ela, a Bia, a responsável para que o meu projeto adquirisse inovadoras e desafiadoras feições.
A Bia faz com que a navegação pelos mares do conhecimento transcorra numa perene convivência com a aventura, com o descortinar desconcertante de novos horizontes que se desdobram em outros horizontes. Esse rizoma de Aprendência se desdobra de forma imprevisível, para não dizer alucinante, num delicioso desejo de mergulhar em todos os oceanos,
o que torna em ventura boa essa aventura da busca do Saber.
A Bia é daquelas pessoas especiais que faz com que permaneça sempre viva a capacidade de sonhar. Perto da Bia, nunca envelhecemos, pois que é fonte inesgotável da fonte da juventude da alma.
Bia, amada amiga, o meu carinhoso abraço; da Lucidalva, minha esposa; dos meus filhos.

quarta-feira, 16 de agosto de 2006

Apresentando um amigo - 4

Na foto, o Mô numa das suas visitas à mãe:
Costelinha


(parte 4)

A surpresa em casa, foi diferente? Claro que não. Nem vou dizer que minha esposa quase teve um “troço”. Se já havia se preocupado com um, imagine com essa dose duplicada.
Tudo bem! Os dois eram umas gracinhas peludas. Acho que é uma artimanha da Natureza, para comovermo-nos com os animais quando pequenos, e nos responsabilizarmos por sua preservação quando adultos, ainda mais se nossos ancestrais tiveram a idéia de domesticá-los... ou será que foi o contrário? Às vezes tenho minhas dúvidas.
E assim passaram-se os dias.
Viemos a perceber que o Mô é que era o brinquedinho de luxo da Belinha. Era o seu bichinho “de pelúcia” preferido. E vivo, ainda por cima. Ela fazia dele o que bem entendia, e ele se comportava como ela queria. Isso que dizer que ela vivia por cima dele, rosnando para ele, “mordendo-o”, latindo “furiosa” para ele. Era o “seu” brinquedo. Que paciência de irmão, o Mô tinha. Nunca o vimos reclamar da sua irmãzinha. Antes, ele mesmo a procurava, às vezes, para se fazer de brinquedo. Assim ele se divertia.
Você, que detesta cachorros, deve estar pensando: que cachorro mais besta. E pensa que o Mô pode ter alguma disfunção de personalidade, ou que não seja de todo, macho. Sei lá. Eu o via e vejo como o vejo. Um belo cãozinho, amorosamente canino.

E passaram-se os meses.
Crescidos, conhecidos por gente que diz entender de cães, pelo menos dois veterinários disse que, pelas características dos dois, a Costelinha não foi tão... tão... Bem, ela não se deixou seduzir por um vira-latas qualquer. O seu parceiro misterioso teria lá alguma coisa de raça, talvez também de pedigree; e esses entendidos deram pelo menos duas alternativas, as quais não coloco aqui. Não assumo essas opiniões. Pronto. Pontos para a Costelinha: teve um caso, sim, pois aí estão os filhos para o comprovarem, mas deve ter sido com algum “príncipe” canino, misterioso, sim.

Lastimo. Nem tudo foi alegria.
A Belinha ia se aproximando do primeiro cio. Preocupação e cuidados à vista. Aqui em casa praticamente não temos muros. Seria tal mãe, tal filha? Aqui as coisas eram por demais facilitadas.
Minha filha tinha a intenção de esterilizá-la. Não o fez prontamente, pois o veterinário disse que seria melhor ela passar por um processo de amadurecimento, antes. Quer dizer, passar por alguns períodos de cio. Ele entende? Respeitemo-lo! E assim foi feito. Mas, o que fazer? Mantê-la fechada? E o seu direito de ir e vir?
Uma solução possível seria “protegê-la” com um tipo de calcinha disponível no mercado canino. Se bem escolhida, diziam, era um verdadeiro cinto de castidade. Você acredita nisso? Pois é! É a Natureza, meus amigos! Ela grita forte quando quer se manifestar, e rompe cintos de castidade. Foi o que aconteceu. Mesmo protegida, a Belinha encontrou um cachorro – sim, C A C H O R R O! – que a seduziu.
Resultado: 5 filhotes. O Mô foi um dos parteiros de plantão. Acompanhou de perto todo o processo, ajudou a limpar os sobrinhos; chegava mesmo a “cuidar” deles quando a Belinha precisava se ausentar da prole para espairecer e fazer suas necessidades. Afinal, o Mô estava ali.

A Belinha tinha um defeito. Ou será falsa crença? Posted by Picasa

sexta-feira, 11 de agosto de 2006

Chronos, devorador de vidas e de sonhos - 8

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(parte 8)


Uma boa parte da tarde Leonor ficara de olho na estrada, ansiosa pela nossa chegada. Não conformada com a espera, dirigiu-se até a porteira. Esta estava aberta por causa dos convidados que chegavam. Os animais que ocupavam esse pasto foram transferidos para outro lugar. Assim, quando surgimos na curva da estrada, Leonor nos acenou e correu ao nosso encontro. Meu pai, diligente, parou a carroça para que eu descesse. Corri ao seu encontro. Confesso, havia sentido saudade dessa menina tão meiga, amiga dedicada. Quando nos alcançou, papai parou a carroça. Leonor – sempre ela – agradeceu e dispensou a carona. Iríamos a pé, disse ela, para aproveitarmos ao máximo o restante da tarde. Foi um reencontro feliz, alegre.
Chegamos às casas e Leonor quis mostrar-me o que estava preparado e em preparo. Havia um movimento febril, muitas pessoas desconhecidas, e todas prontas a ajudar em alguma coisa. Logo, meu pai já estava se dedicando à sua tarefa de orientar o preparo dos temperos e das carnes. Por tudo que eu via, esta, sem dúvida, seria uma das maiores festas que eu fora. Tudo girava em torno da alegria, da animação. Havia música no ar. Um trabalho inebriante. O jantar dessa sexta-feira já estava sendo preparado, quase que uma festa, e seria logo servido. Assim, os adultos teriam tempo para fazer ainda algo mais num espaço da noite.
O tempo correu célere, pois havia muita gente para conhecer, tanta coisa para ver. Leonor me acompanhava, e mostrava-me, entusiasmada, os preparativos para a festa maior. Havia tanta gente que, nós, crianças, estávamos dispensados de ajudar em algo. Grupos barulhentos de crianças se ocupavam, então, das mais variadas brincadeiras. Algumas moças também; entre elas a noiva, muito linda, simpática.
Chegado o momento do sono, cada qual se acomodava onde podia. Era como um grande acampamento, e havia uma harmoniosa descontração. Nós, as crianças, ocupamos um galpão que nos foi reservado. Como cama havia de tudo: pelegos, mantas, colchões emprestados por vizinhos, e isso contribuía para nossa felicidade: estarmos juntos. Simples felicidade.
A madrugada chegou, e com ela o retorno da faina. Quando acordamos, muitos adultos já se ocupavam das suas tarefas. Aves e outros animais eram abatidos e preparados. Havia muito trabalho, mas, acima de tudo, uma alegria quase que mística.
No ar pairava o delicioso aroma do café recém coado; o odor do leite fresco, já fervido, instigava o nosso primeiro apetite do dia. Pães eram retirados quentinhos do forno; isso se misturava aos odores dos temperos num belo convite à vida. Nem sabíamos a que horas os adultos haviam levantado para preparar essa profusão de coisas que já estavam prontas.
Terminado o café, fomos conferir as comidas que estavam sendo preparadas. Alguns homens e mulheres ajudavam meu pai no preparo das variedades de carnes que ainda seriam assadas. Logo, novamente, havia música no ar.
A um dado momento, Leonor se afastou. Quando retornou algum tempo depois, trazia um grosso volume de revistas variadas. Estas haviam sido trazidas pela família da noiva. Deu-me parte delas e pediu-me que a acompanhasse. Pelo rumo que tomamos, logo percebi para onde iríamos. Antes, porém, ela pegou dois pelegos macios, e nos encaminhamos para o seu lugar predileto, no alto da velha mangueira. Lá chegados, uma surpresa. Leonor, lembrando-se do desconforto que passara da vez em que lá estivemos havia providenciado algo com a ajuda de alguns pedaços de tábua. Ali estava a engenhosidade da minha amiga. Segundo ela, estudara com muito cuidado o que fazer e, por final, fez surgir um confortável banco. Ali ela se ajeitou, forrando-o com um dos pelegos. Antes, havia arrumado o pelego naquele que era o seu lugar preferido, onde indicou que eu me sentasse. Ali sentei-me, e o ambiente ficou admiravelmente aconchegante. Estávamos prontos para mais uma das nossas aventuras.



Tessitura em tela

Mutações (2005)

O.S.T. 50x70cm

No tempo, e pelo tempo, o tráfego de todas as mutações.
O branco tinge-se de tinto: taça de vinho; tinto de sangue?
Nos centímetros quadrados da Hera, os signos de uma existência efêmera.
Signos de uma linguagem.
Signos na folhagem.
Signos nas nuances do arco-íris: enredos de todas as vidas... de todas as vidas... de todas... que escapam ao espaço... e o espaço, tão efêmero. E o que resta, se não um indicador qualquer. Posted by Picasa

quinta-feira, 10 de agosto de 2006

Tessitura poética


 

Limbos do desejo


O vício,
do sonho.
Divagar!

Que te impede voar?
Serão as asas que te faltam
ao alado desejo?


Sonhas voar
a alado feito,
quando a alma almeja
aos altos chegar.

Nega-te.
Não seres alado ser,
a erguer em vôo,
teu corpo inerte...
Mulher!


Tua alma...
que almeje voar.
Teu corpo,...
Que se espoje na clara lama
Do desejo... e
Te leve... leve a voar.

No sonho.
No vício... no gozo,
ali aportar!