domingo, 28 de janeiro de 2007

Haikai


Presença fugaz
Do alegre tucano.
Paleta de cores.

Fugaz presencia
del alegre tucán.
Paleta de colores.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

Tessitura poética


Linhas efêmeras no tempo


Resta, do buraco-negro do tempo,
o imenso e gasto pano
que se fecha,
frágil, miserável
e estéril,
que nada mais oferta,
nada mais dá.


Perdem-se,
em todos os idos horizontes,
a imensidade de rostos,
apenas rostos
tangenciados pelas vagas
de todas as vagas lembranças.


Na tresloucada travessia,
o destino é a areia
de todas as praias
onde se escrevem
as linhas da existência;
efêmeras linhas
apagadas pelas águas
assim que traçadas.


E rostos.
Restam apenas rostos
sugados pelo
buraco-negro dos tempos,
efêmero tempo.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

Haikai

Agulhas verdes

Resistem ao rigor dos ventos.

Triunfam os ciprestes.

Agujas verdes

Resistem a lo rigor de los vientos.

Triunfam los cipreses.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

Chronos, devorador de vidas e de sonhos – 17

(Parte 17)


Caminhamos por algum tempo na direção do sol, desviando de arbustos, transpondo cercas, e sempre ao longo de um suave declive. Por fim, nos deparamos com uma imponente sebe que se entendia à direita e à esquerda, uma ondulante muralha verde que aparentava ser intransponível. Leonor arrastou-me para o sul, e caminhamos ao longo da sebe, seguindo o trilho formado pelos animais. A sebe, um tanto mais alta que nós, protegia-nos do sol.

Leonor disse que, quando suas famílias chegaram a essa região, essa sebe já existia. Do outro lado havia um vasto alagado formado por inúmeras nascentes de água. Pelo que sabia, um antigo fazendeiro da região mandara erguer um consistente e longo tabuleiro de terra contornando todo o alagado, e que sobre esse tabuleiro mandara plantar a sebe, para que os dois protegessem as nascentes de água que formavam o alagado, das enxurradas que desciam o declive, e que também impedissem que os trilhos formados pelos animais descessem direto para o alagado, e que com o passar do tempo e de muitas chuvas, poderiam se tornar imensas voçorocas. Lembrei-me de comentar que, na medida em descíamos o terreno, havíamos passado por alguns longos tabuleiros de terra, semelhantes a esse sobre o qual crescera a cerca viva. Leonor disse que os caminhos sulcados pelos animais em suas descidas na busca pela água, somente não se tornaram valetões, justamente por causa dos tabuleiros pelos quais passamos. Lembro-me de ter admirado tamanho cuidado, e zelosa providência desse fazendeiro. Que outros, não tão cuidadosos, permitiam quase que desastres naturais em suas terras.

De tanto falarmos em água, a sede, provocada que foi, tornava-se incômoda. Pensei em que fora temerário não ter-mos trazido uma reserva de água, o que depunha contra Leonor que sempre era tão cuidadosa. Pensei, mas não falei a ela, a não ser dizer que estava com mais sede ainda. Ela riu, e disse que também estava sedenta, e que logo chegaríamos a um lugar onde pudéssemos nos fartar.

De fato, ao vencermos uma suave ondulação da sebe, para a direita, percebi que logo adiante, justamente quando o terreno todo era mais plano, a sebe era interrompida, cedendo lugar a uma cerca de arames que continuava a proteger o alagado, a qual Leonor disse que transporíamos. Assim fizemos. Caminhamos sobre um relvado macio, por pouco mais de uma centena de metros, e chegamos a um pequeno e límpido regato. Eu ia lançar-me a beber água, quando Leonor arrastou-me para irmos um pouco mais adiante, pois queria mostrar-me algo. Fiz enorme esforço para ceder, e o fiz porque era essa doce criatura que mo pedia. A sede torturava minhas entranhas, mas Leonor era um encanto que me inebriava, e eu adorava saciar-me da sua presença.

A poucas dezenas de metros, caminhando contrário ao regato, um maravilhoso capricho da natureza. A água descia um breve declive, tão suavemente, que mal produzia rumorejos. Leonor, indicando para que eu ficasse onde estava, saltou para o outro lado, deitou-se na relva ao longo do regato. Seu ombro direito quase tocava a água. Na posição em que estava, mergulhou o queixo na água que escorria, até que pudesse sorver quanta água quisesse. Após um gole, ergueu a cabeça, sorridente, dizendo-me para fazer o mesmo. Imitei-a. Antes que pudéssemos saciar a sede, Leonor estendeu o braço por sobre o regato e pediu-me para pegar sua mão. Assim fiz, e pudemos então beber a vida, tendo no peito uma agradável sensação de liberdade, de quase animalidade.

Era delicioso estarmos ali, prenhes de natureza.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2007

Haikai


Semelhantes anjos,

Que cantam ao vento.

Lírios brancos.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2007


Esta primeira postagem de 2007,
eu a quero fazer como homenagem à amizade.

Falo da amizade que vai acontecendo
aos poucos, trazida pelas
suaves vagas do oceano cibernético.

E essas amizades que aqui chegaram,
e chegam,
são como que arcas de tesouros imensos
que, serenamente, vão sendo depositadas
nas praias deste meu blog.

São tesouros humanos fabulosos,
seres que habitam este planeta
que não parece ser o azul planeta Terra,
pois que são almas que se confundem
com os anjos, com as boas fadas, com todos
o espíritos maravilhosos do reino da Luz.

São seres, em tudo parecidos com humanos,
e são humanos singulares que trazem
no seu interior, incontáveis e belas multiplicidades.
São seres que criam um outro mundo,
um mundo belo, transbordante de paz,
de humanidade, de generosidade,
de amizade.

São seres-tesouros para se
guardar bem fundo no peito,
onde cada nome brilha como o mais
puro de todos os brilhantes.

A todos os meus amigos cujos
nomes já estão no meu peito,
e a todos aqueles que virão,
o meu abraço de Luz.