segunda-feira, 31 de março de 2008

Tessitura Poética





Você


Como se em ara sagrada fosse,
sobre o ventre desnudo
repouso todos os meus desejos.


Na pubiana pele,
morna, úmida,
derramo carmins pétalas de flores,
metáforas que são dos meus beijos.


Da oferta de amor
os olores se elevam.
Há frenesis,
perdição no tempo,
no gozo
de corpos fundidos
em dualidades amantes.


A pira dos desejos por ora satisfeitos
nos consome,
e não se consumam em mim
os desejos perfeitos

que tenho por você.

terça-feira, 25 de março de 2008

Tessitura Poética












Contraposto


Sei, não.
Dizem, ser o poeta:
- Vagabundo.

Sei, não.
Diz o poeta,
criar o mundo!

Sei, não.
Dizem, ser o poeta:
- Sonhador.

Sei, não.
Diz o poeta,
curar a dor!

Sei! Não
ser biruta nem profeta,
quando se é poeta!

Então!... Sei não!

sábado, 22 de março de 2008

Tessitura Poética

Amores


O gesto de Amanda,
suave e belo,
resgata-me a memória:
recorda-me Hortênsia,
a bela de olhos verdes,
ainda a povoar os sonhos
de tão antiga adolescência.


Sorri Amanda.
Sorri-me Hortênsia...
o seu imutável no tempo
sorriso tão belo.


Beija-me Amanda!
Beijava-me Hortênsia:
os amados beijos
soprados ao vento.


Acaricia-me Amanda!
De Hortênsia...
os antigos afagos
do enlace das mãos.


Hortênsia,
e Amanda,
os amores

da minha existência.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Tessitura Poética

Linhas efêmeras no tempo


Resta,
do buraco-negro do tempo,
o imenso e gasto pano
que se fecha,
frágil, miserável
e estéril,
que nada mais oferta,
nada mais dá.


Perdem-se,
em todos os idos horizontes,
a imensidade de rostos,
apenas rostos
tangenciados pelas vagas
de todas as lembranças.


Na tresloucada travessia,
o destino é a areia
de todas as praias
onde se escrevem
as linhas da existência;
efêmeras linhas
apagadas pelas vagas do tempo
assim que traçadas.


E rostos.
Restam apenas rostos
sugados pelo
buraco-negro do tempo,
efêmero tempo.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Tessitura Poética










Limbo do desejo


O vício,
do fêmeo sonho.
Sobre o corpo,
Amanda,
divagar em ousado pouso!

Que impede o gozo?
Serão as asas que faltam
ao alado desejo,
que se faz em sonho?

Sonhar
o alado feito,
sobre o Amanda corpo pousar,
quando a alma almeja
ao gozo chegar.

Negar-se.
Não ser alado ser
a erguer-se em vôos
de desejos.
Depois,
repousar sobre o
fremente corpo...
Amanda Mulher!

A alma...
que almeje voar.
O corpo,...
Que se espoje na clara lama
do desejo...
leve... leve a voar
nos ares do desejo.

No sonho,
no vício... no gozo,
sobre ti, Amanda,
aportar,
com todos os sonhos,
e desejos!

domingo, 9 de março de 2008

Tessitura Poética















Desencontros

Tenho fome,
tenho sede,
imensas.
E colho os devires incertos,
frutos do tédio da busca por teu rosto.

De ti, que povoas
todos os momentos
constantes
de toda minha existência,
tenho fome,
tenho sede.

Onde procurar-te,
onde encontrar-te?

Na travessia dos
mares das águas
ou das areias dos desertos todos?
Aquém ou além
das linhas longitudinais
ou transversais
da cósmica esfera?
É tanta a minha espera!

Habitas tu
o mesmo concerto do tempo
que a mim revela?
Ou perdidos somos
no espaço cósmico,
nos desconcertos do tempo.

Tenho fome,
Tenho sede de ti.
Tu,
que povoas todos os meus sonhos.

domingo, 2 de março de 2008

Tessitura Poética





Tua pele, o meu chão.


Eu gostaria,
e como gostaria,
que o chão em que piso,
que o chão sobre o qual deito,
agora,
fosse como a tua pele,
na cor da tua pele,
liso e suave como tua pele,
morno como tua pele,
macio como tua pele.

Sobre esse chão,
deslizo a minha mão
em terno afago e,
sobre ele,
repouso minhas carícias
de agora.

Eriçado de gozo,
teria esse chão
os mesmos arrepios
que arrepiam tua pele?

Como eu gostaria,
agora,
eriçar tua pele.

Deixo,
no chão sobre o qual deito,
como se fora na tua derme,
o meu afago,
o meu beijo.

Freme o chão.
Ou será tua pele?