sexta-feira, 30 de maio de 2008

Tessitura Poética







Enigma


Uma flor é uma flor.
Um corpo é um corpo.


Flor? Não somos.
A flor desabrocha, amadurece, e cai:
cumpriu seu papel.
Após a flor vem o fruto,
que amadurece, e cai.


Um corpo é qualquer corpo.
E somos mais que um corpo.
Desfeito o corpo,
nada mais amadurece, e cai?


E quem somos nós?
Nunca desabrochamos como a flor,
mas, amadurecemos, e caímos?
Somos corpo,
mas,
que corpo é esse que se pensa flor?


Somos o enigma

que oscila entre um corpo e uma flor.

domingo, 25 de maio de 2008

Tessitura Poética









Talvez seja


A gota d’gua
é metáfora do que somos.


Prenhes de vida, somos;
gotejantes no fluir do tempo, somos;
límpidos na essência, somos;
translúcidos na alma, somos;
seres água, somos.


Assim como a gota é água
com toda a água que há,
também somos vida e alma
com todas as vidas e almas que há.


E,
talvez,
sejamos oceano de vida
do qual nos desgarramos
enquanto gotas.

Talvez seja.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Tessitura Poética






Soneto antigo


Figura estranha,
O poeta,
Autor da façanha
Completa.

Cria versos...
Até prosa,
De sentidos bem diversos,
Quando chora, ou mesmo goza.

É sina, ou escolha,
Dar à vida, prisão,
Em tão fina folha?

Decerto é mister!
Quem sabe a razão,

Do bem ou mal o quer.

sábado, 17 de maio de 2008

Tessitura Poética








Sete


Sete... os pecados capitais.
Do homem... todos originais.
Ter deles ciência inicial,
distancia o homem da condição animal.


Dos pecados há dois tipos:
os perdoáveis pela simples expiação;
os graves, merecedores de toda condenação.


Paixões humanas, de crescente gravidade,
extinguem no homem a suavidade,
... e a caridade.
Todas aquelas, de egocêntrica manifestação!


Sete, os pecados capitais
ferem no mortal homem
as Sete Virtudes primordiais.


Estas, dos pecados não são iguais.
Sua prática constante
eleva o homem a todo instante.


Assim:
A simplicidade...
virtus, afasta a luxúria.
A generosidade...
liberalis derrota a avareza.
A temperança...
frenum, abafa toda gula
A diligência...
industria contra a manha da preguiça.
A paciência...
patientia acalma a tola ira.
A caridade...
humanitas, terror para a inveja.
A humildade...
humilitas, nocaute na mesquinha arrogância.

Todas elas, merecedoras da boa irmã Constância.

domingo, 11 de maio de 2008

Tessitura Poética















Luz


Diz-se que a luz se faz, ao olhar,
em imperceptíveis lampejos,
e que é dos lampejos
que tudo se revela.


Nós, criadores de telas,
damos cárcere perpétuo
a fragmentos

do que a luz desvela.

domingo, 4 de maio de 2008

Tessitura Poética











Enigmas no homem

O próprio espanto,
a multiplicidade inconsciente:
serve à toca do lobo
e ao pasto do cordeiro,
em um único ser inteiro,
e tanto,
que é nele latente.

Indefinido o distanciamento,
indefinida a aproximação,
repúdios na negatividade
e no inconsistente
acontecimento.

Enigma para a razão:
compreender de um único corpo,
tanto o suporte
quanto o suposto,
no limiar das intensidades
dos lobos e dos cordeiros
nas suas velocidades
e multiplicidades
nas fronteiras de todos os limiares,
e devires.

Devir lobo,
devir cordeiro.
Inumano devir
nas intensidades,
eternas intensidades
das multiplicidades
da matilha
ou do rebanho;
em tudo,
esse enigma estranho,

em um único homem.