sábado, 21 de junho de 2008

Tessitura Poética

Acaso?


Do acaso,
tenhas dele o tino:
é coincidência
que renega o destino;
não vive só
nem por si tem existência.


O acaso é rizoma
reverso de arborencência,
urdidura que faz soma
da negação e aceitação
do devir que assoma
no bifurcado sim e não.


Tem por alimento
a circunstancialidade;
faz seu o caminho
da intencionalidade;
equilibra-se na sazão
em desafio da razão.


Do acaso, irmão,
dele tenhas o tino:
jamais é rota do destino,
ao qual se chega ação após ação;
resposta a todo sim ou não,
avesso à dicotomia,
rizoma pasto da Filosofia.

domingo, 15 de junho de 2008

Tessitura Poética









O entardecer


Instigante prelúdio da noite,
cortina que se desdobra
engastada de astros
a dizer-nos que não estamos sós.

Reverso do amanhecer,
é parte do cenário posto
para que se desenrole
o nosso acontecer.

O entardecer não é ocaso:
é caminho para o interior;
é certeza de que não há retorno;

é, em algum lugar, o alvorecer.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Tessitura Poética














Processo

Não é intempestiva
a mortalha que nos recobre,
feita de instantes
desde que nascemos.

O destino primeiro
é sempre outro,
e outro é a cada instante.

Todavia,
a mortalha se faz
rizoma,
e soma,
do temporal nervoso coletivo
do complexo racial
e social,
do clã,
e da civilizada temporalidade.

E somos outro,
sempre outro,
moldado,
arborizado
e enraizado
no outro, que somamos,
e memória fugaz do processo
no fraudado abscesso,
talvez,

do assomo do que somos.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Tessitura Poética





É meu desejo


Sabe o que eu queria?
Amar
somente a ti.

Dar,
somente a ti,
todo o amor que amei
em todas as mulheres
que conheci.


Meus braços
serem teus,
somente teus,
em infindos abraços.

A minha alma,
que te dou com meus beijos,
ser tua,
somente tua.

Por derradeiro,
queria ter-te assim,
sempre,
de corpo inteiro,
nua,
e ofertar-me a ti,

verdadeiro.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Tessitura Poética

Indultos


Perdoai, Senhor.
Perdoai as Minhas dores,
os Meus rancores.

Perdoai se Me lancei à lama
da Minha sorte de Homem,
e tornei-me chama
feita de paixão,
no reverso da razão.

O Meu desterro, perdoai.
Dele, se possível, chamai-Me.
Perdoai, se a Ti tenho esquecido.
Perdoai, se também a Ti tenho traído.

Perdoai.
Se por Ti sou esquecido.
Se por Ti tenho clamado,
perdoai.
Eu, mesmo por Ti traído,
mesmo por Ti preterido,
a Ti, Senhor,

tenho perdoado.