quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Tessitura Poética

Carícias mentais

A janela vazia.
Ela, que tantas vezes foi moldura
do retrato vivo de Hortênsia
a olhar-me com seus meigos olhos verdes.

Estará Hortênsia agora sonhando?
Povoaria ela, então, os oníricos mundos
nos quais sonho nossos encontros carnais?
Ou, como pesadelo, vazios estão a janela e os lençóis.

Crédito dou aos meus adolescentes sonhos:
dorme Hortênsia, amada minha.
Para que a beije toda,
leva a ela a brisa o perfume de todas as flores.

Que a seduzam em êxtases e gozos,
a música suave de todas as liras celestiais;
afaguem-lhe o corpo os lençóis dos seus cheiros,
em carícias imaginadas nos meus jardins mentais.

Dorme Hortênsia, eu o sei.
E sorri inteira na felicidade dos sonhos.
Na janela, o imaterial retrato da amada,
que a brisa desfaz em perfumes e acordes angelicais.

sábado, 18 de setembro de 2010

Tessitura Poética

De um devotado amor

A morte chegou antes...
terá ela nascido quando eu nasci?

Não, amada minha.
Tudo aconteceu no exato momento que te conheci.

Eu te amei no exato instante
do pulsar do sangue quando te vi.

Na pira ígnea da mais intensa paixão,
por primeiro o desfalecimento, e morri.

O teu desdém, indiferente e frio,
foi a morte do amor que a ti devotei.

No entanto, reiterante meu sentimento,
da morte, tudo transmudou em sofrimento.

Você sempre esteve presente
nas fragrâncias que toda mulher exalou,
em todos os lábios que beijei,
nos olhares de cobiça que olhei...

Não... não sei.
Talvez não haja outra mulher à qual tanto amei.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Tessitura Poética

Esquife revestido de sonhos

Pesa-me demasiado o esquife que carrego,
restos mortais feitos dos ossos, das carnes, da alma e do espírito
de um menino morto há décadas passadas,
abatido que foi pelo gume inclemente do tempo.

Belo menino, encantador eu diria,
nos seus sonhos de amar e ser amado
pelas tantas belas mulheres que seus olhos viram,
e que povoaram seus mundos amantes na fantasia.

Tantos são os rostos femininos, os corpos desejados,
transformados nos etéreos seres angelicais
que revoam nos espaços imaginários e celestiais,
mundo no qual caminha ao meu lado o fantasma criança.

Entre tantos, os belos olhos verdes de Hortênsia,
que ainda fazem pulsar ardente de paixão,
o há tempo do menino imaterial coração,
que para todo o sempre a amou.

Morreu o menino da minha infância.
Resta ao homem de agora, o tormento
das lembranças de um tempo passado,
dos amores pelos quais um coração menino pulsou.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Tessitura Poética

Pó e seixos

O tempo,
indiferente e pegajoso,
quase maldito no seu desdém pela minha mortalidade.

Desliza, o tempo,
como o rio ácido que corrói minha carne, meus ossos,
e desfaz em pó os meus sonhos.

É uma canalhice o tempo ser sempre novo
quando tudo o mais em mim se faz velho,
e no seu leito de ácido volátil,
nada mais deixa que pó e seixos de vidas terminadas,
e por mim com ânsias vividas.

Entre os pós e os seixos estão os meus sonhos,
os meus desejos de beijar teus lábios,
os teus seios,
sugar tuas seivas carnais,
em gozos mortais para tudo o mais;
se o tempo tivesse me dado:
o tempo de ter-te nos meus braços de amante,
e você, minha mulher...
o tempo passou como um rio.

O tempo, como um rio, passou.