sexta-feira, 3 de março de 2006

Silêncio na Floresta

Crepitando a lenha no fogão. Lentas labaredas aquecem o aposento, misto cozinha, sala e lugar de freqüentes reuniões. Acima do fogão, toucinhos, lingüiças e carnes defumam, sem pressa de estarem prontas.
Num lugar elevado e próximo a uma das paredes, uma lamparina ilumina o ambiente na madrugada cheia. A tênue luz destaca uma velha moldura que realça uma frase em letras góticas, reluzentes de purpurina: "O pão não faltará a esta casa."
No ar, um forte aroma de café.
O silêncio, profundo, é interrompido pelo chiar de uma gota de gordura, caída na chapa quente do fogão.
- Você precisa se cuidar. - Diz ela em tom preocupado.
Seus corpos, estendidos na rede trazida do quarto, não precisam do calor do fogão. Amam-se. Aquecem-se. Respiram um ao outro. Ele, abraça-a suavemente e, jurado de morte, diz-lhe:
- O que tiver que ser, será! Nenhum cuidado vai evitar.
Sente o tremor do corpo amado, que mais se aconchega ao seu, como que a querer protegê-lo. Ficam mais alguns instantes gozando suas presenças na serena madrugada.
- Tenho que ir. Eles querem me ouvir antes de adentrarem as estradas. - Ele diz.
- Te cuida.
- Tá! O Narciso vai me acompanhar no eito.
Levanta-se e beija-a. Acende a poronga que lhe iluminará os caminhos; apanha os demais petrechos.
Ao sair para a madrugada ainda escura, línguas de fogo cospem duas balas traiçoeiras que lhe barram o caminho rumo aos seringais.

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