quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Tessitura Poética

Marejar no Tempo


Há gozo na dor?
Se há... que sei eu?

Apenas minha’lma
Mareja... oscila
Nas ondas do tempo, na espera.

Enquanto marejam
As dores pequenas –
Gotas no mar do tempo –
A dura peleja!

Dor no gozo!
Que há! Bem o sei!
Que marejo no tempo, à espera
De aportar-me em ti...
Destino meu!

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Tessitura Poética

Dama da Noite



Vestida de branco,

acolhe o cálido beijo

da brisa da noite.


Despudorada,

exibe-se ao olhar de encanto,

e cobiça.


Expõe-se à carícia,

ao revelado clique de um momento,

no cárcere da eternidade

dilacerada em fragmento.


Dama,

sensual e bela

na fugaz existência,

alheia, talvez,

à iminente falência

refém do dia.


Morre,

antes mesmo que este principia.

sábado, 28 de novembro de 2009

Tessitura Poética

Essência humana

O que tiver que ser,
será, talvez.
Frustradas esperanças objetivas,
mil vezes mil superadas
as negativas, talvez.
Anti-modelo estrutural,
ou gerativo,
estranho ao eixo genético
onde a armadura mental profunda
não abunda, talvez.
Pivotante unidade objetiva,
sucessividade celular fecunda,
unicidade ultra-dimensional,
transformacional e subjetiva.

Essa a cadeia humana,
tanto a sadia quanto a insana,
liberta da binaridade
arborescente do
decalque reprodutivo ao infinito,
substância corpórea que não é granito,
por este velado e revelado,
porém,
no derradeiro instante do réquiem.

Mapa-rizoma
a que tudo se soma,
essa a essência humana.
Homem-mapa-aberto
conectável
reversível
desmontável
transformável constante,
mutável na perfídia psicanálise.
Mapa-rizoma no uno,
porém,
pivotante grupal e social.

Do redundante perigo decalque,
se libera, e
dos impasses bloqueios
de todos enganosos esteios.
Da vergonha,
da culpa,
da fobia,
liberta-se pela porfia,
talvez.

Não subserviente ao
desmoronamento,
buraco negro
do rizoma fechado,
arborificado e...
morto,
enfim.
Antes, às impulsões exteriores
o desejo fomenta,
e outras às produtivas,
acrescenta.

Rizomorfo Ser,
se estendidas as ramas,
e as tramas
do pensamento,
e das sinapses da
urdidura cerebral,
nunca um produto final;
talvez?

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Tessitura Poética

Cantigas da alma


Quão estranha

Essa teimosia

Que me vem

Da alma.


Resistir é preciso?

O que dita-me o siso?


Desnudar-me

Na poesia.

Dói!... ou alivia?


- Não importa o alívio.

- Não importa a dor.


Apenas canta

Alma de sonhador

O teu canto triste

Teu canto... a tua dor.


Atuar é preciso?

O que diz-me o siso?


Fazer poesia.

Cantar!

Alivia!... ou dói?


- Que importa a dor

- Que importa o alívio?


Apenas cante

Alma de cantor

o teu pranto triste,

Teu pranto... a tua dor.

sábado, 7 de novembro de 2009

Tessitura Poética

Torvelinhos


Busco respostas
às inquietudes da alma.

Paro.
Refaço caminhos.
Duvido nas encruzilhadas.
Tropeço nos mesmos embaraços.
Verto as mesmas lágrimas.
Sorrio os mesmos sorrisos.

Creio mais.
Pergunto mais.

E,
Revejo amigos.
Revivo momentos de amores.
Rubram-me as faces nas mesmas paixões.
Canto velhas canções.
Grita meu peito, repetidos gritos.

Convenço-me menos.
Vejo mais.

Tudo me apraz...
ou dói... Mas,
o que mais dói, sempre,
são os arrependimentos.
Poucos.
Marcos que são,
dos caminhos tortos que trilhei.

Busco respostas.
As inquietações na alma.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Tessitura Poética

Ritornelos


A ti, Terra Mãe,
Elevo meus cantos...
Ou serão meus gritos?

Serão, em princípio,
Elevados gritos
Que ecoam no
Espaço-tempo,
Ritornelos do meu
Próprio canto?

Territoriais,
Mortais,
Meus cantos-gritos.

Gritos ou cantos:
Universais paralelos,
Os territórios de encantos
Que dão morte ao consciente,
Ritornelos mortais ao inconsciente, e
Por fim, platôs de angústias,
De sofrimentos.

Territoriais,
Mortais,
Meus cantos-gritos.

Da alma – pássaros cósmicos –
Os apelos aflitos,
Desterritorializantes,
Meus cantos, meus gritos,
Apelos à morte,
Da morte reféns.
Meus cantos.
Meus gritos.

A ti, Terra Mãe,
Elevo meus cantos...
Ou serão meus gritos?

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Tessitura poética

Moeda


Uma só.
As duas faces, irmãs.
De um lado, o Bem.
Do outro, o Mal.

No crucial momento
da concepção,
nasce também o portento
continuado da criação:
a moeda perenemente lançada ao ar,
no mesmo ar que se respira.

No entanto,
qual mão se estende para a acolha?
Pairando entre a sorte e a escolha,
mão alguma é estendida.
Não há inocência perdida,
entre vontade e Razão.

Tudo é sazão;
manifesto desejo
e circunstanciada ação
nas sinapses neuronais em lampejo.

O Bem e o Mal
germinam do mesmo pó cerebral.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Tessitura poética

Da mente


Luminária, ou,
buraco negro
incongruente,
estonteante.
Assim é:
a nossa mente.

Fonte de delírios,
e de todos os martírios.
Deusa do gozo,
mesmo que doloroso.

Abismo infinito,
que ora suga,
ora regurgita;
ora é fuga
à paranóia aflita.
Ora é encontro
ou até mesmo confronto.
Ora é busca
que a tudo mais ofusca.

Assim é, a nossa mente:
sã,
ou demente;
submissa
ou influente.

De todo o nosso ser,
o poderoso diluente
onipresente;
incessante no ato pensante,
intensificante,
ou,
circunstancial,
até ao lampejo final.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Tessitura poética

Um momento...


Quem és tu,
vestida de rubra estrela,
que passas fugaz
no firmamento da minha existência,
o teu passar...
lento,
ondulante,
e sensual?

Teu olhar oblíquo,
o sorriso enigma,
um breve convite que se desfaz,
e mergulhas no infinito do tempo.
Deixas,
com o teu lento passar,
um rastro de incertezas,
turbilhão de pulsares...
de desejos,
e luzeiros no pensamento.

E aparentas, ser,
Simplesmente...
uma linda mulher!

sábado, 12 de setembro de 2009

Tessitura poética

Desterro


Tu és grande, Senhor.
Tanto, que a mim tens preterido,
embora não tenhas de todo esquecido
sendo Tu, o meu Criador.

Por seres tão grande,
desfizeste comigo, a identidade.
Tens, afastado de mim tua rostidade
nos desterros pelos quais eu ande.

Se és grande, Senhor.
Por que de mim tens afastado,
por que não me tens falado;
e das frias lajes te municias
para dizer-me o que anuncias?

Deste-me, Senhor,
por desterro, o processo linear;
tornaste-me sujeito ao clamor,
e estrangeiro da expansão circular.

Sois grande, Senhor.
A isso não há como me opor.
Por quê, então, distancia-me da esperança,
de partilhar contigo a aliança?

Tu, és grande Senhor!
Esse, o meu tormento, a minha dor,
por saber-me pó,
e invólucro de alma no desterro e só.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Tessitura poética

Naus errantes?


Viver:
são balanços das vagas da vida,
incessantes.
Nós?
A velame pleno
no infinito oceano Tempo,
Mar da Serenidade, jamais.

Alucinante viagem essa,
desconcertante.
Viver,
é ter quilha como fio de navalha gélida
a romper as incertas correntes do tempo
traçando rotas para nossos cascos de nau,
nessa viagem sempre inaugural.
Nós, deslizantes veleiros,
por engano ou por engodo,
julgados eternos náufragos errantes,
que não somos.

Que pequenino porto nos acolherá,
se temos os olhos plantados em todos os horizontes?

domingo, 30 de agosto de 2009

Tessitura poética

Natimortos


É o crepúsculo,
já, avesso ao sol nascente.
Principia a morte
em estertores
no crucial momento do parto.

Ali,
no leito que acolhe
o natalício,
não é acontecido o
enésimo numeral positivo.
Antes, a sucessiva
negatividade do tempo
se conta,
sempre menos...
sempre menos.

Angústia que se
agasalha em dolorida busca,
pretendido equilíbrio
entre o monismo
e o pluralismo
do ser uno,
desnecessário...
sempre desnecessário,
se assim for pensado.

Aforismos preteridos,
acreditados,
ou creditados
nos ruminantes delírios
do pensamento,
nas investidas reiterantes pelas
estepes nômades de
toda singular existência.

Esse o enigma da vida,
princípio do caos,
do pó,
e da falência...
desde sempre cantada carnal falência.
Morre-se no dia
em que se nasce...
que se nasce.

domingo, 23 de agosto de 2009

Tessitura poética

Delírios


Haverá certeza,
ou explicações,
para todas as angústias?

Ou serão elas raízes
das nossas incertezas?
Deus! Que somos perenes,
senão eternas redundâncias.

Ou, serão nossas identidades
repetidas metáforas de novidades
na ribalta das rostidades todas?

Nas mutações, escórias da eternidade,
redundâncias somos,
repetidas circunstâncias remanufaturadas
em devires mil,
mil vezes mil
devires quase sem novidade.

Seres unos, somos,
milpartidos em mil,
a cada instante
no fluir constante,
circunstante,
e reiterante do ato da criação.

Repetições.
Identidades.
Rostidades.
Diferenças...
e repetições.
Assomadas crenças,
de que somos novidades,
quando delírios, apenas somos.

E o fluir,
o devir
constante,
inquietante,
delirante,
é engodo também da criação.

Quando haverá certeza,
ou explicação?

sábado, 15 de agosto de 2009

Tessitura poética

Pensamentos


Tortuoso caminho.
Aonde me levas?

Ora me mostras o cume
aquém do céu,
e acima das brumas,...
E há o gozo do cansaço,
de buscar-te um pouco além.

A Serenidade,
qual sol majestoso,
minha’lma eleva além...
muito além de onde me levas.

Tortuoso caminho.
Aonde me levas?

Ora me mostras o negrume
refém do abismo,
perdição nas brumas,...
e no cansaço sem gozo,
de sentir-te muito além.

E da eternidade?
Qual negrume impiedoso,
minha alma atrai e retém...
muito aquém de onde me elevas,
cativo e eterno refém.

sábado, 1 de agosto de 2009

Tessitura poética

Dize-me: o que é o amor?

O amor: é destino.
É acontecer sem ensejo;
é manifesto incorpóreo
do destilado orgânico químico.

É incerto destino
do bem querer e desejo,
sem lavor maquínico
do estrato corpóreo.

É subversão da consciência
no ardor passional do cupido,
e plasmado cume da libido.

Quando tudo e nada tem sentido
é perene e sanguínea ardência
a levar razão e coração à falência.

sábado, 25 de julho de 2009

Tessitura poética

Sempre foi mais

Não foi repouso
o pouso do beijo
nos lábios de Jandira.

Rosados,
úmidos,
entreabertos ao fim de dizer-me:
- “Beija-me.”

O pouso do beijo
nos lábios de Jacira
foi mais, mais, mais...
perdição nos tremores do gozo.

Rosados lábios carnais
entreabertos ao final de dizer-me:
- “Tenha-me.”

Não foi repouso o beijo
nos lábios de Jandira,
nem repouso foi beijar
os lábios rosados de Jacira.

Nos lábios de Jacira e de Jandira,
rosados, úmidos e carnais,
tudo sempre foi mais, mais, e mais...

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Tessitura poética

Da poesia

Disse-me um jovem,
ser, a poesia,
coisa chata escrita em verso.
Coitado,
mal humorado,
sequer prosa lia.

Importa pra mim, eu dizia,
ser, a poesia:
o trem,
o carro e a carroça de outrora,
ou, muito HP a mil por hora
no hidramático de agora.

É barco e navio transatlântico,
até mesmo canoa furada
no escrever romântico;
ou, pipa alada
ao vento semântico.

Às vezes, é tronco tosco
e deslizante,
ou, preso no enrosco
de algum significante.
É avião teco-teco,
ou bólido esvoaçante;
até nave estelar teleportante
deste poeta, pela alma um viajante.

As viagens, dizia eu,
feitas com a poesia,
pra mais de cem,
tumultuadas sempre,
às vezes zen,
talvez rimadas com desdém,
ou proseadas, se me convém,
é tudo o que importa
para uma alma torta,
mas, que não está morta.

sábado, 11 de julho de 2009

Tessitura poética

Do olhar de quem me ame.


Olhe para mim:
o que vês?

Meus olhos,
que mergulham nos teus,
vasculham tua alma,
e cintilam contentamentos;
veem espelhados como meus
todos os sentimentos teus.

Meu olfato é cativo
das fragrâncias
que de ti se elevam;
dilatam-se minhas narinas,
sugam o nunca rarefeito
ar que vem de ti.

Que digo eu?...
neste fiapo do tempo
que me enreda
nos teus braços
perdendo-me da razão?

Olhe para mim:
o que vês?

Eu,
dilacerado pelo fio do tempo
que me descaminha,
fragmentado
em partículas que respiram por ti,
atmosfera que és
da minha existência,
amada minha.

sábado, 27 de junho de 2009

Tessitura poética

Selo de morte de um amor

- Ordinária! – disse-lhe seu homem.
O tapa na cara
fê-la ir do espanto
ao pranto.
E as mãos que cobriram o rosto,
de vergonha,
também do amor foram mortalha.

Passado o turbilhão da ira,
quis saber o que fizera.
Seu homem, consumido em ciúme,
olhar e sorrir para outro a vira.

Trazida da memória a circunstância,
tudo remontou à infância.
Lá prometera: um primeiro tapa,
também o último seria,
o drama da mãe, não repetiria.

Olhara, sim,
mas ao vazio o olhar dirigira.
E para si mesma então sorrira.
Descobrira, enfim,
onde e como ao seu homem diria,
que em seu ventre o filho trazia.

Houve súplicas,
implorado o perdão.
Isso jamais repetiria.

O amor vivido com paixão,
no peito sucumbiu à razão.
E para sempre,
o selo de um tapa,
ao querido amor deu um fim.

sábado, 20 de junho de 2009

Tessitura poética

Do inexplicável tempo

Perguntas-me o que é o tempo.
Prudente dizer é: não sei.
Pondere! Dele subtrai-se a lei:
de tudo é edificador;
é cinzel e martelo do criador.

Também, que é chronos,
mito que a tudo devora,
transmuda o presente em outrora,
o devir torna inseguro,
e incerto oráculo o futuro.

A tudo conduz à ruína,
mesmo à pena que a tudo valha,
por ter chronos a eterna sina
de ser promessa e também mortalha.

Do tempo tudo e nada se pergunta,
e tem-se dele a certeza de que apenas É,
e que a tudo separa e junta,
nas reveladas somas sustentadas pela fé.

sábado, 13 de junho de 2009

Tessitura poética

Diálogos poéticos

Sempre há prelúdios
do delicado amor,
engastados que são
na estriada curvatura do tempo.

O amor é eterno
por quanto tempo que dure,
se não for desperdiçado.
E se algum amor
não for correspondido,
que não haja coração despedaçado,
pois que outro amor terá surgido,
e outro coração será abraçado.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Tessitura poética

Ouça! É um grito!



Quem?!

Quem está aí?

Deus! Quem ouvirá o grito,

medonho no desespero,

que não ecoa,

que não vaza

as paredes frias do granito!


Quem?!

Quem está aí?

Deus! Quem será o fulcro,

a elevar da tumba,

aquele que medra no sepulcro!


Deus!

Quem moverá os fios.

Quem moverá a lápide.

Quem resgatará dentre

os corpos frios,

o refém da morte.


Deus!

Quem responderá ao grito,

ao último apelo aflito,

que não ecoa e não vaza

em torvelinho infinito.


Deus!?

Estas aí?

Ouça! É um grito!

O grito...

por demais aflito...

Deus!?