quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Tessitura Poética









Da angústia


Porque
fazes da angústia,
do teu caminho
o pavimento.
Ela,
é teu espinho,
e sofrimento.


Porque
refutas a fé,
em ti depositada
pelo Criador,
cais na cilada
que te leva à dor.


Porque
tens estreita visão,
e cego és de um olho,
fixas teu olhar no chão,
e dele te fazes escolho.


Porque
teu pensamento
ao passado acalenta,
o amanhã não vês,
perdes o alento,
sofres e lamentas,
em mais nada crês.


És, tua própria angústia,
circunstanciada angústia.


Tu!
Que és feito
para sorrir,
e ser feliz.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Tessitura Poética

Bailarinas


Um dia,

pela manhã,

pensei em pintar apenas bailarinas.


A tarde

trouxe-me a certeza:

poderia pintar

todas as coisas,

que os pés

e os corpos das bailarinas

pintam.


Amanda,

minha amada,

dançou para mim.


terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Haicai


Límpidas gotas
principiam a chuva.
A moça corre.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Tessitura Poética













A razão de tudo


É tão gostoso,
e intenso,
sermos observados pelos astros,
enquanto nas entranhas
explodem galáxias feitas em gozo.


A brisa,
que sopra forte,
ondula a relva:
o verde e macio lençol
sobre o qual
fremem nossos corpos.


Não longe,
o marulhar das águas,
também verdes,
mornas,
salinas,
se faz em convite.


Os astros,
as galáxias interiores,
a relva,
o mar!
E você, Amanda,
sobre tudo isso,
convite,
e razão dos meus amores.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Tessitura Poética


O caso de Alzira


Alzira,
com seus encantos,
em ser feliz
sonhava.
O destino assim não quis.


Tinha seu homem
que em seus castelos
de sonhos
habitava.
Alzira,
esquecida dos prantos,
o amava.


Um dia,
disse-me Alzira,
se desiludira.


Casar
um dia sonhara,
ter filhos,
em bela casa morar.
Ao seu homem,
tudo isso ela dissera.


Na última vez,
ainda na cama,
o gozo ainda em chama,
disso ela o lembrou.
Ali, sua vida murchou.


Após longa baforada,
construiu-se a charada;
desfez-se o sonho acalentado.
Ele,
virou-se de lado,
alcançou o copo com gim e soda,
bebeu e,
sem olhar para Alzira,
disse:

- Você vale isso. Uma boa foda.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Tessitura Poética


Procura inglória


Sim!
Morre-se na praia
de toda uma existência
vivida em tenebrosa procura.

Ao longe, sempre às costas,
o tênue brilho do sol
de todos os percorridos orientes.
Por marco de uma chegada
nunca alcançada,
o frio granito
sobre o qual se inscrevem
os esboços de todos os epitáfios.

E as mortais travessias,
talvez
resultem na estéril lápide
de um jazigo frio,
ao fim, vazio,
pois ao pó se reduz.

A quê procurar,
a quê encontrar,
se o vil engodo se oculta no sórdido
monismo avesso ao pluralismo,
que somos;
justo onde não medra a nossa
inglória busca.

E morre-se na praia,
em infame falência.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Haicai


Canora corruíra
saúda a fresca manhã.
Arrulham as pombas.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Haicai


Zéfiro canta:
no marulhar das folhas
a melodia vital.