sábado, 27 de junho de 2009

Tessitura poética

Selo de morte de um amor

- Ordinária! – disse-lhe seu homem.
O tapa na cara
fê-la ir do espanto
ao pranto.
E as mãos que cobriram o rosto,
de vergonha,
também do amor foram mortalha.

Passado o turbilhão da ira,
quis saber o que fizera.
Seu homem, consumido em ciúme,
olhar e sorrir para outro a vira.

Trazida da memória a circunstância,
tudo remontou à infância.
Lá prometera: um primeiro tapa,
também o último seria,
o drama da mãe, não repetiria.

Olhara, sim,
mas ao vazio o olhar dirigira.
E para si mesma então sorrira.
Descobrira, enfim,
onde e como ao seu homem diria,
que em seu ventre o filho trazia.

Houve súplicas,
implorado o perdão.
Isso jamais repetiria.

O amor vivido com paixão,
no peito sucumbiu à razão.
E para sempre,
o selo de um tapa,
ao querido amor deu um fim.

sábado, 20 de junho de 2009

Tessitura poética

Do inexplicável tempo

Perguntas-me o que é o tempo.
Prudente dizer é: não sei.
Pondere! Dele subtrai-se a lei:
de tudo é edificador;
é cinzel e martelo do criador.

Também, que é chronos,
mito que a tudo devora,
transmuda o presente em outrora,
o devir torna inseguro,
e incerto oráculo o futuro.

A tudo conduz à ruína,
mesmo à pena que a tudo valha,
por ter chronos a eterna sina
de ser promessa e também mortalha.

Do tempo tudo e nada se pergunta,
e tem-se dele a certeza de que apenas É,
e que a tudo separa e junta,
nas reveladas somas sustentadas pela fé.

sábado, 13 de junho de 2009

Tessitura poética

Diálogos poéticos

Sempre há prelúdios
do delicado amor,
engastados que são
na estriada curvatura do tempo.

O amor é eterno
por quanto tempo que dure,
se não for desperdiçado.
E se algum amor
não for correspondido,
que não haja coração despedaçado,
pois que outro amor terá surgido,
e outro coração será abraçado.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Tessitura poética

Ouça! É um grito!



Quem?!

Quem está aí?

Deus! Quem ouvirá o grito,

medonho no desespero,

que não ecoa,

que não vaza

as paredes frias do granito!


Quem?!

Quem está aí?

Deus! Quem será o fulcro,

a elevar da tumba,

aquele que medra no sepulcro!


Deus!

Quem moverá os fios.

Quem moverá a lápide.

Quem resgatará dentre

os corpos frios,

o refém da morte.


Deus!

Quem responderá ao grito,

ao último apelo aflito,

que não ecoa e não vaza

em torvelinho infinito.


Deus!?

Estas aí?

Ouça! É um grito!

O grito...

por demais aflito...

Deus!?