quinta-feira, 2 de novembro de 2006

Chronos, devorador de vidas e de sonhos - 14


 

(Parte 14)

Tudo urgenciava nos preparativos para o grande jantar que se seguiria ao casamento. Meus pais, como estavam plenamente envolvidos no preparo das comidas, certamente não iriam à cerimônia, nem os pais de Leonor, que se prontificaram a fazer as honras da casa para que os primos, pais do noivo, cumprissem seus compromissos no casamento do filho. Essas eram apenas umas das razões por eu e Leonor termos decidido não irmos à cerimônia. Numa conversa que tivemos, chegamos à conclusão de que todos os casamentos eram iguais. Leonor havia mesmo pensado em ir para ver a noiva entrando na igreja, mas voltou atrás quando lembrou-se de já a ter visto usando o vestido, numa das últimas provas que fizera. A viagem em cima de um dos caminhões era um atrativo para mim, mas eu somente iria se Leonor fosse. Assim, o fato de irmos ou não ficou ao seu encargo decidir. Não iríamos. Depois da nossa leitura da fotonovela e do inusitadamente silencioso almoço a dois, ela, além de digerir os alimentos, ruminava idéias.
Tanto, que assim que percorremos os vários lugares onde se desenrolavam a febril atividade dos preparativos, Leonor tomou-me a mão desta vez e arrastou-me consigo. Atravessamos pastos e lavouras até que eu percebi que estávamos nos limites das terras das suas famílias, pois estávamos diante de uma cerca e, do outro lado, um pasto abandonado que já estava sendo tomado por variedades de arbustos formando uma espécie de capoeira. Atravessamos a cerca.
Leonor dava passos decididos à frente, numa linha em zigue-zague, desviando-se dos arbustos. Paramos diante de um esplêndido pé de guabirobas repleto de frutas; as minhas frutas silvestres preferidas. Estavam verdes, porém. Esse fato foi motivo de uma enorme decepção da minha amiga que disse contar que encontraria algumas frutas maduras. Disse, ainda, que aquelas frutas eram as mais doces das quais havia saboreado; que havia outros pés por ali, mas nenhum igualava e esse que, além de frutos graúdos, carnosos, eram deliciosos. Realmente, próximo dali havia algumas outras guabirobeiras das quais nos aproximamos em busca de algum fruto maduro. Não os havia, e pude constatar de que, pelo menos no tamanho, seus frutos não se comparavam aos do primeiro pé. Minha amiga lamentou que não houvesse frutos maduros, mas que eu provaria deles. Disse que talvez ainda demoraria uns quinze dias para começarem a amadurecer, mas que enviaria por meu pai uma porção de frutos daquele pé especial, e outra porção dos demais pés; nem se daria ao trabalho de identificar cada porção, que eu, ao prová-las, saberia de quais pés seriam, tanto pelo tamanho como pela doçura. Eu sabia que ela faria isso.
Dali mesmo de onde estávamos avistamos um marmeleiro carregado de frutos. Dele nos aproximamos esperançosos. Havia belos marmelos, verdes. Outra decepção.
Leonor disse que queria mostrar-me algo, e apontou na direção de uma única árvore que havia por ali, e que ficava, talvez, a duas centenas de metros de onde estávamos. Para lá nos encaminhamos.


4 comentários:

Bia disse...

Como eu gosto de o ler. Fala com um carinho da Leonor, que até parece que já a conheço, deixou ao cargo dela, decidir ou não a ida á cerimónia, uma atitude de um cavalheiro, depois percorrem belos caminhos, cheios de frutos, com a promessa de que lhe seriam enviados seus frutos preferidos e o andar de mão dada, lindo!
Adorei! agora já o reconheço... na sua tranquilidade e no carinho com que escreve.
beijinhos grandes

Anônimo disse...

Oi meu amigo,

Mais uma vez adorei ler chronos, nossa... como é bom sentir as fortes emoções que aqui nos deixa.
Adoro entrar em sua casa, faz-me sentir bem.
Obrigado.
Espero meu amigo, que esteja um pouco melhor que da última vez que o visitei e vice versa.
Que a luz ilumine sempre o seu coração.
Aproveito para lhe desejar um lindo fim de semana e uma semana cheia de paz e luz em seu maravilhoso coração.
Xi - corações mil.

Bia disse...

já é um pouquinho tarde para desejar bom fim de semana, o Domingo está a terminar, apenas me apeteceu passar por aqui e deixar um beijo.

Bia disse...

Olá só passei para lhe desejar uma boa semana, ver se havia alguma novidade por estes lados e dizer-lhe que escrevi sobre "o beijo", depois dê um saltinho ao meu cantinho para ler, gosto sempre de ler o seu comentário...
Já agora o beijo que fica da sua amiga para sempre.