domingo, 30 de agosto de 2009

Tessitura poética

Natimortos


É o crepúsculo,
já, avesso ao sol nascente.
Principia a morte
em estertores
no crucial momento do parto.

Ali,
no leito que acolhe
o natalício,
não é acontecido o
enésimo numeral positivo.
Antes, a sucessiva
negatividade do tempo
se conta,
sempre menos...
sempre menos.

Angústia que se
agasalha em dolorida busca,
pretendido equilíbrio
entre o monismo
e o pluralismo
do ser uno,
desnecessário...
sempre desnecessário,
se assim for pensado.

Aforismos preteridos,
acreditados,
ou creditados
nos ruminantes delírios
do pensamento,
nas investidas reiterantes pelas
estepes nômades de
toda singular existência.

Esse o enigma da vida,
princípio do caos,
do pó,
e da falência...
desde sempre cantada carnal falência.
Morre-se no dia
em que se nasce...
que se nasce.

domingo, 23 de agosto de 2009

Tessitura poética

Delírios


Haverá certeza,
ou explicações,
para todas as angústias?

Ou serão elas raízes
das nossas incertezas?
Deus! Que somos perenes,
senão eternas redundâncias.

Ou, serão nossas identidades
repetidas metáforas de novidades
na ribalta das rostidades todas?

Nas mutações, escórias da eternidade,
redundâncias somos,
repetidas circunstâncias remanufaturadas
em devires mil,
mil vezes mil
devires quase sem novidade.

Seres unos, somos,
milpartidos em mil,
a cada instante
no fluir constante,
circunstante,
e reiterante do ato da criação.

Repetições.
Identidades.
Rostidades.
Diferenças...
e repetições.
Assomadas crenças,
de que somos novidades,
quando delírios, apenas somos.

E o fluir,
o devir
constante,
inquietante,
delirante,
é engodo também da criação.

Quando haverá certeza,
ou explicação?

sábado, 15 de agosto de 2009

Tessitura poética

Pensamentos


Tortuoso caminho.
Aonde me levas?

Ora me mostras o cume
aquém do céu,
e acima das brumas,...
E há o gozo do cansaço,
de buscar-te um pouco além.

A Serenidade,
qual sol majestoso,
minha’lma eleva além...
muito além de onde me levas.

Tortuoso caminho.
Aonde me levas?

Ora me mostras o negrume
refém do abismo,
perdição nas brumas,...
e no cansaço sem gozo,
de sentir-te muito além.

E da eternidade?
Qual negrume impiedoso,
minha alma atrai e retém...
muito aquém de onde me elevas,
cativo e eterno refém.

sábado, 1 de agosto de 2009

Tessitura poética

Dize-me: o que é o amor?

O amor: é destino.
É acontecer sem ensejo;
é manifesto incorpóreo
do destilado orgânico químico.

É incerto destino
do bem querer e desejo,
sem lavor maquínico
do estrato corpóreo.

É subversão da consciência
no ardor passional do cupido,
e plasmado cume da libido.

Quando tudo e nada tem sentido
é perene e sanguínea ardência
a levar razão e coração à falência.