quarta-feira, 29 de março de 2006

Quê coisa!!!

Se viesse assim, como no estampido de um raio, ou num choque doloroso de um murro, tudo bem, é quase certo que nos pegaria desprevenidos, e o que viesse depois aos poucos iria se arrumando, e logo nos recomporíamos passado o susto. Mas, não, ela chega de mansinho, se insinuando da maneira mais sutil imaginável. É até difícil perceber-lhe a chegada e a presença.
Quando vem, juntos vêm os sintomas que recusamos em aceitar, ou admitir. As pessoas nos perguntam: Tudo bem? e a gente responde: Tudo bem; quando na alma sentimos que nada está bem.
As coisas perdem o sabor; dá vontade de se meter num buraco e de lá nunca mais sair; fazer qualquer coisa, dar um sorriso que seja, é tão difícil que não o fazemos. Se sorrimos, é um riso mecânico, apenas um movimento de alguns músculos da face que nada refletem de uma alegria que nos alimente a alma. Perde-se o gosto até de viver.
É um mal tão antigo. Já chegou até a ser chamado de "mal do século". Outros o chamam de melancolia, de uma tristeza sem explicação. E às vezes parece não ter explicação, mesmo. Há uma contenda química que a determinado momento eclode do orgânico, e que nos atinge até ao mais precioso bem: que é a alma. Sozinhos não se vence essa batalha.
Então, por um ato prodigioso de um Ser Supremo, Providente, vêm ao nosso encontro pessoas maravilhosas que insistem em nos dizer qua nada está bem. Então procuramos ajuda, abrimos nossa alma, e uma nova vida recomeça. Não é uma luta fácil, exige coragem, determinação, persistência. Exige que demos gritos desejosos de libertação desse mal. Que sacudamos as grades que nos queiram prender. Então, num esforço medonho, nos pomos a fazer coisas como esta, de escrever algo a respeito. Voltamos a fazer pequenas coisas que não fazíamos antes. Em qualquer sorriso que nos brote nas faces, deixamos fluir, também, um pouco da alegria que nos venha da alma. E então começamos a perceber que ainda não houve morte, e que há um vasto campo de momentos maravilhosos para ainda serem vividos.
É assim que pinto a depressão que tentou tomar conta de mim. E tenho certeza de que vou pô-la ao chão, para nunca mais dali se levantar. Juro.

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