domingo, 2 de abril de 2006

Março... bem...

Março! Eu ia falar de março, do mês de março que se foi? Trinta e um dias. Se alguém quiser fazer os cálculos das horas, minutos e segundos que ele durou, fique à vontade. Não vou fazê-los. Março, o meu mês de março, teve a mesma duração cronológica que teve para qualquer outro ser vivente. Mas, para mim - o psicológico - foi um mês longo, longo em demasia. Por algum motivo - já escrevi aqui sobre isso - eu descobri que estava sendo corroído, sutilmente, pela depressão. Sim, pela depressão, essa coisa que ataca em qualquer idade. Ela me atacou nesta minha idade. Foi tão sutil o seu ataque que quase não lhe percebi. Claro que ela não veio assim, de repente... em março. Mas foi em março que dela tomei pleno conhecimento. O médico me disse: ele deve saber bem sobre o que me disse.
Medicamentos! Própósito? Desligar-me. Ou, melhor, ligar-me a uma vontade, forçada, para relaxar, para desejar afundar-me de uma vez numa rede, ou estender-me numa cama e, dormir, dormir, dormir.
Depois. Bem, depois seria, ou será, algo para fazer o contrário. Ligar-me novamente à vontade de ligar-me, de viver.
Eu comecei dizendo que ia falar sobre isso? Ah! Sim. Acho que sim. Estou meio desligado mesmo.
Bem! Ontem, à tarde, afundado na cama, lembrei-me de uma coisa, de uma coisa bem simples: lembrei-me da vida! Levantei. Calcei uns tênis, e saí para caminhar. Aqui onde eu moro, se você quiser de fato caminhar por bastante tempo, e não ficar zonzo de tantas voltas por ruas asfaltadas e já passadas e repassadas, você tem que sair para o campo, para as colônias. Passar por milharais e ouvir o seu bate-papo com o vento; passar por matas e ouvir suas fofocas com o mesmo vento; ouvir os pássaros nos seus cantos de bate-papo com a vida; passar sobre riachos e ouvir seu bate-papo com suas próprias águas, com as margens, com as pedras e galhos que lhes esperam pacientes; passar por moradias e ouvir os latidos dos cães e seus donos a acalmá-los: - é alguém que apenas passa!; ouvir o barulho do gado arrancando bocados de capim dos pastos, um ou outro se comunicando aos berros; porcos, nas granjas, grunhindo em seus cubículos apertados; subir e descer ladeiras; ser engolfado pela poeira levantada por algum carro que passa. Essas coisas.
Foram mais de três horas de caminhada. As pernas e o corpo se cansaram? Sei-lá! Cheguei em casa: um começo de noite, um banho, uma breve relaxada na cama, pois as pernas e corpo não são de ferro.
Durante a caminhada, juntos iam: minha alma e meus pensamentos. Eles diziam coisas: às vezes falavam em sussuros com Yaveh; às vezes agradeciam pela vida; às vezes agradeciam a companhia das coisas que se mostravam no chão e nas margens próximas ou longínquas, da estrada; às vezes me lembravam que ontem iniciara abril... Abriu... ABRiu... ABRIU... Então...
Ao final, no breve relaxar depois de tudo isso, lembrei-me de que a vida é a benção de um rizoma. Rizoma rede, um emaranhado misterioso de nós que não te deixa cair se você descobrir que pode e deve se abandonar à segurança dessa rede rizoma, a vida, que é uma benção de Yaveh. Rede rizoma que tem a virtude de, se um nó se romper, incontáveis outros se unirão para te sustentar, para te manterem seguro, vivo, e com vontade de viver. Por entre os inumeráveis, infinitos nós, estão as pessoas com as quais você cruza e te dão um aceno, uma palavra amiga não solicitada e nem esperada; um sorriso honesto, franco, quando você sequer tem vontade de sorrir.
Então, não importa quão grande lhe pareça o problema que você tenha, você acaba percebendo que, no final, qualquer problema que você ache que seja grande, ele será, ridiculamente, muito menor, mas muito menor do que o Mágico de OZ.
E que, grande mesmo, só Yaveh Que É maior que tudo o mais, e que te provê de coisas se a Ele você se entregar, e fizer um mínimo que você possa fazer. Mesmo que seja apenas uma caminhada.
Março? Bem, esse se foi... Abril... Abriu!!!

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