segunda-feira, 3 de abril de 2006

Qual insano fez isso?

Exatamente, não sei dizer quando foi a última vez que estive aqui. Faz algum tempo, pois.
Aqui onde estou, de pé, um dia aqui estive sentado, sem dar conta do correr do tempo. O lugar tinha uma extensa relva macia, vigorosa, exuberante de vida. Bem próximo de onde eu estava sentado, naquele dia distante, havia um arbusto em plena floração. Eram os sinais da primavera. Abelhas, borboletas multicores, e uma infinidade de insetos vinham ali em busca de pólen e néctar. Claro, outros arbustos que por ali vicejavam, também faziam essas suas oferendas à vida.
A poucos passos de onde eu estava, estendia-se uma grande lagoa de águas límpidas. Rapazes, moças, crianças, pessoas, freqüentemente vinham ali tomar banho e brincar sobre uns troncos de madeira que por ali existiam. Não eram raras as presenças de alguns pescadores, pois que a lagoa era generosa em peixes.
Naquele dia, olhando para a direita, percebi que havia três elegantes garças brancas que se alimentavam nos rasos da lagoa. Bem à frente, a mais de duas centenas de metros, havia uma mata luxuriante. Dali se ouvia o cantar incessante de várias espécies de pássaros. Um pequeno bando de macacos fizera daquela mata, o seu habitat. À esquerda, margeando a lagoa, chegava-se a um matagal constituído de pequenos arbustos, e algumas variedades de capins. Seguindo na direção de onde vinha um suave ruído de águas correntes, chegava-se ao local em que a lagoa despejava sua águas por entre as pedras e, então, ali nascia um regato que, certamente, mais adiante se uniria a outros regatos que formariam um córrego, que se uniria a outros córregos para formarem um rio, e o rio tomava a direção do oceano distante, nesse maravilhoso e rizomático acontecer do ciclo das águas.
No interior da mata, numa pequena e deslumbrante clareira, havia um lugar de singela beleza, e protegido por samambaias e outras variedades de plantas. Ali havia um poço não muito profundo. Suas águas eram as mais cristalinas que eu jamais vira na natureza. Era extasiante observar o borbulhar da branca areia do fundo do poço, trazendo à tona a generosa água que dali brotava. Vários eram esses borbulhares. Essa fonte alimentava a lagoa, criava os encantos desse lugar e contribuía para a grandeza do oceano.
Eis, pois, que os verbos, até agora, registraram um tempo passado.
Agora, aqui estou, de pé, pois que não há mais relva macia sobre a qual sentar-me. O solo está varrido, seco. Um ou outro tufo de algum tipo de capim que surge em lugares quase sem vida, esforçam-se para mostrarem uma ou outra folha ainda verde. Ao redor, tudo é devastação.
Dou alguns passos à frente, e começo a pisar o solo que antes sustentava a lagoa. Passo por entre pedras, por alguns trechos de areia seca, e por outros tantos de chão duro e sem vida. De onde começava a mata, vejo uma infinidade de troncos abatidos a moto-serras. Aqui e ali, de pé, uns espectros enegrecidos de carvão, restos do que outrora foram árvores viçosas, criam um espetáculo horrendo.
O lugar, certamente, foi destruído e abandonado, há algum tempo, à própria sorte, pois, um ou outro arbusto por ali vicejam na terra empobrecida. Nada mais.
Chego ao lugar onde outrora eclodia a fonte de água. Revolvo folhas, galhos secos, cinzas, e eis que reencontro a branca areia. Seca. Olho ao redor e vejo três pequenas poças de água, talvez de chuvas passadas. Água estagnada. Em suas superfícies, a ordinária e fina camada iridescente que normalmente cobre as águas mortas.
Não sei o que pensar, não sei o que dizer.
Volto para o lugar onde há pouco estivera de pé, e outrora sentado. Agora os pensamentos fluem, e fluem estranhamente. Penso no homem, nos vários tipos de homens que surgem no caudal da vida, e nele deixam as suas marcas. Penso: o que se passará pela cabeça de um general que, após uma batalha, após o resultado das suas táticas e estratégias de guerra, contempla um sangrento campo de batalha eivado de corpos sem vida, e tinto de puro sangue? Escombros de uma guerra. Quais os motivos terão levado o general a compor tão cruel cenário? Penso em Guernica: o óleo sobre tela feito por Pablo Picasso, retratando a sua visão de artista, do sangrento e odioso bombardeio alemão sobre a cidade basca, em apoio à política de um homem: o ditador Franco. E penso no homem cuja mente compôs esse cenário de morte à minha frente. Com que finalidade o compôs? Qual o seu propósito? Se ainda vive, e vê essa sua obra, que pensamentos se apresentarão à sua mente?
E fluem os pensamentos: os horrores nossos de cada dia.
Depois, vencidos o espanto e o ódio, penso que a vida ainda vale a pena ser vivida, apesar da presença desses espetáculos criados por mentes...

Um comentário:

Anônimo disse...

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