sexta-feira, 12 de maio de 2006

Cifras!

 Estatísticas. Há que se desconfiar delas. 20%. Ainda mais se elas nos apresentam cifras redondas assim: 20%. Pois foi esse o número que, há pouco tempo passado, nos foi dito ser a porcentagem de aluninhos brasileiros reprovados ao final da primeira série dos estudos, isto é, da 1ª à 4ª série. Se verdadeira, essa cifra é preocupante. O mesmo acontece se sofreu alguns arranjos de arredondamentos, e são, portanto, próximas a isso.
Façamos algumas considerações. Tenho participado de Simpósios/Encontros, nos quais são discutidas as questões que envolvam a Inclusão das pessoas portadoras de algum tipo de deficiência, no ambiente normal da escola. Está mais do que tardia essa preocupação. Muito bem, num desses encontros, foi divulgado que é comprovadamente histórico que há em torno de 10% de pessoas que têm alguma deficiência, seja física, mental, de visão ou de audição, bem como aquelas atingidas pelo TDAH - Transtorno de Déficit de Atenção/Hipertatividade. É um número expressivo. Como o assunto Inclusão aqui no Brasil - é minha opinião - ainda se encontra na fase embrionária, é bem possível que essa população esteja excluída da cifra: 20%. Caso isso seja verdade, mais preocupante é a situação.
Normalmente, o público infantil que freqüenta as primeiras séries escolares, é assistida por instituições que estão sob a responsabilidade direta dos Municípios. Exclui-se, portanto, aquelas cuja posição geográfica e ecomômico/financeira da família, permite que freqüentem escolas particulares que, teoricamente, estariam melhores estruturadas.
O que tenho percebido é que, nas instituições mantidas pelo poder público, pode estar ocorrendo um equívoco. Equívoco esse que pode gerar sérias conseqüências no resultado final das relações de Aprendência dos alunos por ela assistidos. Que equívoco seria esse? Quantidade x Qualidade.
Em várias instituições que conheço, os alunos são freqüentemente retirados da sala de aula para terem, entre outras coisas: educação física, "aulas de informática", educação artística, ensaios freqüentes de danças, teatros e coisas que tais por ocasião da proximidade de 
uma profusão de "datas comemorativas", atenderem às necessidades de preparação de alunos participantes em "projetos" desenvolvidos por professores, etc. Não! Não que eu seja contrário a isso. O que eu questiono é o seguinte: tanta ausência da sala de aula não estaria prejudicando o objetivo maior que é o aprendizado do domínio da leitura, escrita, iniciação aos conhecimentos da matemática, história, geografia, etc, pelos quais os alunos serão fatalmente avaliados e, se não se sairem bem nessas disciplinas, serão reprovados?
Posso, é claro, estar equivocado. Outras seriam as questões que, para confirmá-las, seria preciso um trabalho de pesquisa e avaliação das condições de ensino em cada estabelecimento, feito com a maior seriedade, profissionalismo, e fidelidade possível.
Mas, eu insisto. Não se estaria priorizando a quantidade de coisas nas quais os alunos estão sendo envolvidos no dia-a-dia escolar, no mesmo tempo de pernanência no ambiente escolar? Se isso de fato está ocorrendo, então seria algo emergencial fazer com que o aluno esteja
 em tempo integral na escola, bem cuidados e alimentados, e então poderia ser explorada de outra maneira, qualitativa, as potencialidades existentes nas nossas crianças.
O fato de que algo sério está acontecendo nas primeiras séries, é por eu ouvir professores que recebem alunos que atravessam o portal do Ensino Fundamental, e que com eles trabalham na 5ª série, dizerem com todas as letras de que, para essas crianças terem algum rendimento nesse
novo ambiente, precisam ser realfabetizadas e terem aulas dos rudimentos de matemática. Isso é real. Então, algo sério, de fato, deve estar acontecendo.
Mas, o que fazer? Fico preocupado em levantar essas questões, pois que talvez eu não tenha sugestões concretas e realizáveis para melhorar esse perfil do nosso ensino básico.
Apenas, outra coisa me preocupa. Cada vez mais, crianças, adolescentes e jovens estão sendo engolfados pelas tecnologias da comunicação e da aquisição de conhecimento, na atualidade.
Seria como eles estarem numa rota, embarcados em aeronaves supersônicas, enquanto a nossa escola pública segue a mesma rota, embarcada num antigo teco-teco, com a fuselagem ainda de lona. Isso, quando não embarcadas num carro puxado por sonolenta junta de bois.
Se observarmos bem, e pensarmos, em muita coisa que nos chega pelo canais de notícias, talvez possamos deduzir de que eu não esteja tão equivocado assim.
Cifra: 20%, sendo verdadeira ou não, é preocupante, e nos envergonha, a nós que pretendemos
ter orgulho de ver o Brasil finalmente constar entre os países desenvolvividos.

3 comentários:

Marce disse...

É vergonhoso! Um país com a ambição de tornar-se desenvolvido tem como dever priorizar a eduacação... infelizmente, não é o que vemos aqui; tanto pelos motivos citados por você como outros tão evidentes.
Agradeço e retribuo a visita.
E fico feliz por encontrar mais um blog com conteúdo neste mundinho virtual.
Um abraço,
Marcela

Carlos Espírito Santo disse...

Olá!
Agradeço o seu comentário ao meu blog.
Chamou-me a atenção este post sobre educação. Aqui em Portugal também sentimos muitos dúvidas e a necessidade de que há muito a fazer...
Um abraço!
Carlos Espírito Santo

Anônimo disse...

Muito obrigado, caro professor, pelos elogios em relação a academia literária 2006. È muito bom saber que aquilo que fizemos foi bom! valeu. E a honra é toda nossa de tê-lo como nosso mestre