terça-feira, 27 de junho de 2006

Chronos, devorador de vidas e de sonhos. ( 3 )

(Parte 3)

Esse novo golpe, e mais a necessidade que meu pai via em freqüentarmos uma escola, levou-nos a ir morar na cidade.
Junto com a última carga de algodão, outro caminhão levava nossa mudança rumo à cidade que eu desconhecia. Um ambiente novo para mim. Lá chegados, meu irmão já havia passado da idade para ir à escola. Minha irmã, mesmo sendo meados do ano, feitos alguns testes, foi aceita na primeira série, e não teve problemas para ir adiante. Por insistência do meu pai, foram feitos alguns testes comigo e, de alguma forma, embora não tivesse idade ainda, fui aceito, mas, como ouvinte. Que fascínio, e que descobertas ali aconteceram. No ano seguinte, já matriculado regularmente, iniciei oficialmente os meus estudos.
O trabalho na cidade, tanto para meu pai, como para o meu irmão adolescente, era duro. As colheitas de café ou algodão que aconteciam próximas da cidade, atraíam minha mãe, que assim fazia sua parte para ajudar no que pudesse.
Em pouco mais de um ano moramos em três casas diferentes, alugadas. Depois de tanto trabalho, e vendendo as reservas de cereais e café depositados em confiança em armazéns na cidade, meu pai comprou uma casa que atendia aos seus planos; espaçosa, com três quartos, duas salas, a cozinha e duas varandas. Nos fundos, um pequeno depósito e um abrigo que vieram a ser muito úteis. O que era melhor. Do outro lado da rua ficava a escola na qual estudávamos, eu e minha irmã. O terreno também era grande, o que permitiu fazer, de uma parte, um pequeno piquete. Junto com a casa, meu pai comprou uma carroça e um belo cavalo baio. Assim, transformou-se num comerciante itinerante.
O que isso implicava? Na parte traseira da carroça foi alocado um engradado; logo adiante, duas a três caixas recheadas com casca de arroz, e duas malas repletas de utilidades domésticas necessárias a gente que morava longe da cidade. Ali ele levava desde tecidos, agulhas, linhas, botões, sabonetes, perfumes, entre tantas outras bugigangas. Percebera essa utilidade com os mascates que nos visitavam regularmente nas fazendas.
Saía muito antes do sol aparecer e, na maioria das vezes, voltava com a noite. O engradado vinha repleto de frangos gordos, e as caixas, com ovos. Nisso, havia troca de mercadorias, ou a compra efetiva das aves e ovos, dependendo da ocasião. Naturalmente, trazia uma lista de encomendas que seriam levadas na próxima viagem. Cada itinerário era cumprido em aproximadamente a cada quinze dias. Duas vezes por semana, nas quartas-feiras à noite, e no final da tarde de sábado, vinha um caminhão recolher as aves e os ovos, levando-os para a capital.
Embora sacrificado, pois não havia descanso, meu pai saindo de casa em dia de sol ou chuva, os negócios prosperaram. Acabamos por nos adaptar à vida na cidade e, com o seu trabalho, ele foi ficando conhecido e construindo relações de amizades com seus fornecedores e clientes.
Num dos itinerários havia um grupo familiar, constituído por três irmãos e dois primos, descendentes de italianos. Juntos, compraram uma fazenda e a dividiram em cinco sítios muito bem organizados. Todos eram casados. Cada qual, após muito planejarem, construiu sua casa de tal modo que ficavam próximas uma das outras, formando como que uma pequena vila. E foi justamente desse núcleo de parentes, que surgiu a melhor das relações de amizade do meu pai. Tanto, que insistiam muito com meu pai para que nos levasse até lá para nos conhecerem. Posted by Picasa

2 comentários:

Zana disse...

Estou completamente fascinada pela sua história... =)

Abraço

TGo. disse...

Olá, um dia desses você deixou um comentário no meu blog: http://atelierdossonhos.blogspot.com/; então estou aqui para agradecer de coração a emoção de tê-lo lido. Ainda mais pelo fato de você nem me conhecer, foi um elogio sincero, sem aquela coisa de apenas puxar o saco...ahah..adorei, e continuo aguardando visitas suas ao meu blog novamente. Também gostei muito do seu, poesias, obras de arte de muito bom gosto...Até.