quinta-feira, 27 de julho de 2006

Chronos, devorador de vidas e de sonhos. - 7



(Parte 7)

Era um almoço que antecedia uma partida. Não havia o mesmo clima de alegria do almoço da véspera, mas, nem por isso ele foi menos prazeroso; haviam delícias a serem degustadas, tudo resultado da imensa cordialidade com que fomos recebidos por esses novos amigos. Somente não foi tão demorado. Assim que pode, meu pai, ajudado certamente, começou a preparar a nossa volta.
Assim que tudo ficou pronto, partimos. Sabíamos o que nos esperaria na volta, e todos ali bem o compreendiam.
Leonor nos acompanhou até a porteira que dava acesso à estrada. Abriu-a. Quando passamos, ela a fechou e se colocou sentada na parte mais alta da mesma. Dali nos acenava e, aos gritos, nos desejava boa viagem, e pedia por breve regresso. Viu-nos desaparecer na primeira curva.
Como meu pai havia previsto, fomos parados várias vezes. Recebia novas encomendas, e procurava, da melhor maneira possível, fazer com que seguíssemos nossa viagem para casa. O cavalo, depois confirmou meu pai, reconhecia o caminho de volta, e apressava a marcha. Assim, chegamos em casa com alguma claridade da tarde que há muito declinara. Enquanto minha mãe e irmã preparavam o jantar, nós, os homens, preparamos a carroça para que papai pudesse voltar ao seu trabalho junto com a madrugada seguinte.
Passaram-se os meses. Em todas as vezes que meu pai fazia o itinerário que atingia a casa de Leonor, de lá trazia bilhetes e cartinhas. Foi ela, Leonor, quem iniciou essa troca de cartinhas e bilhetes; vários e várias a cada viagem. A primeira cartinha, dizia ela, a escrevera assim que retornara à sua casa. Depois que nos viu desaparecer na curva da estrada, ela ficou sentada por muito tempo onde estava, dizia, pensando em tudo o que acontecera nesses dois dias. Depois, retornara à casa e pôs-se a escrever aquela que seria a primeira das muitas cartas e bilhetes que eu dela receberia. Já nessa primeira cartinha ela dizia contar os dias até que ali fôssemos novamente. A todas eu respondia, mesmo sentindo-me um pouco desconcertado com a minha um tanto desleixada caligrafia, se comparada ao capricho das suas letras.

Era um outro ano. Depois de postergar algumas vezes, por motivos justos e variados, meu pai, finalmente, conseguiu levar-nos novamente à casa de Leonor. Não haveria justificativas dessa vez. Aconteceria o casamento do primo mais velho de Leonor que, quando lá fomos, já estava noivo. A noiva, pelo que sabíamos, morava em São Paulo, para onde a família se mudara algum tempo atrás. Ele se casaria e, depois, iria para a capital, para ali tentar uma outra vida.
Tomadas todas as providências, e o almoço tendo sido preparado bem mais cedo, partimos assim que almoçamos e as coisas foram sendo arrumadas. Era perto do meio-dia da sexta-feira. Havia uma razão, desta vez, para que fôssemos na sexta, e não no sábado. Papai, por saber como ninguém preparar assados, era freqüentemente convidado para conduzir essa parte da cozinha nos festejos de casamentos de parentes e conhecidos, o que fazia com o maior desvelo, prazer, e capricho. Haveria muito que fazer, numa parte da noite dessa sexta-feira, e por todo o dia seguinte até o jantar do casamento. Era esperado um grande número de pessoas.

Habitualmente, nesses casos, ainda mais quando se tratava de pessoas que moravam no campo, os vizinhos e convidados enviavam grande número de aves gordas, leitões, partes de cabritos, e outras carnes, para que a festa fosse de todos, animada, e houvesse farta alimentação para os parentes e convidados que viessem de muito longe. Assim, muitas festas chegavam a iniciar já na sexta-feira, véspera do casamento, e só terminar, talvez, no domingo à noite.
As bebidas eram consumidas numa quantidade assustadora. Lembro-me de pilhas e pilhas de sacos contendo cervejas e refrigerantes. Os padrinhos, e os convidados mais abastados, faziam questão de doarem sacos e mais sacos de bebidas. Essas, vinham em grossos sacos de aniagem, contendo sessenta garrafas em cada saco. Cada garrafa era envolvida por uma espécie de cartucho de palha de trigo ou outro material semelhante, densamente costuradas entre si, e que protegiam cada garrafa. Haviam os homens que tinham enorme prática de cuidar das bebidas; de refrescá-las, e cuidar dos vasilhames que deveriam ser devolvidos aos fornecedores, intactos. E faziam isso com enorme prazer. Eram festas memoráveis.

No casamento do primo da Leonor, portanto, quando lá chegamos, embora fosse a véspera do mesmo, já havia um delicioso clima de festa que havia começado logo pela manhã.

4 comentários:

Zana disse...

:)

Sempre que leio o chronos viajo para um agradável mundo... Uma maravilha!

Espero que um dia possas editar Chronos para eu comprar e voltar a ler vezes sem conta, só pelo prazer de viajar por esse maravilhoso mundo de boas sensações e sentimentos.

AH! E é claro, com um autografo e uma bela dedicatória =)

esmeraldas disse...

agradecemos tus bellas palabras...muy bueno tu blog!
te invitamos a participar en nuestra convocatoria de arte correo "PELO CABELLO VELLO".
Mandanos tu direccióm postal para enviártela por correo.
un abrazo
las esmeraldas.

Cerámicas disse...

Gracias por tus palabras, es muy cierto lo que dices.
Tanto tiempo sin visitarnos.
Un saludo.
(Me cuesta un poco leer el portugués)

Alvaro Gonçalves Correia de Lemos disse...

Meu querido amigo,

Adoro viajar e sempre que leio chronos eu viajo consigo ao seu passado, estou amando.
Obrigado.
Desejo um bom fim de semana e uma semana cheia de luz em seu coração.
Xi - corações mil.