quarta-feira, 27 de setembro de 2006

Chronos, devorador de vidas e de sonhos - 12


 

(parte 12)

Lá, encontrou-a.
Nesses breves momentos do intervalo vivenciaram um dos mais doces palpitar dos seus corações, como que o anúncio de que haviam se encontrado por fim; como se por isso houvessem esperado por toda uma eternidade.
Ela, antes de dirigir-se para o camarote, disse-lhe que, terminado o concerto, iria a um restaurante com os amigos. Propôs que lá se encontrassem. E assim ele fez.
Sentaram-se próximos, e puderam desfrutar de maravilhosos momentos. Terminado o jantar, e antes que a animação do grupo esmaecesse, retiram-se. Ela, fiel aos amigos, por eles seria conduzida à sua casa. Antes de retirar-se, porém, disse-lhe que estaria livre no dia seguinte, e que poderiam combinar um novo encontro. Assim o fizeram prometendo encontrarem-se na tarde seguinte.
Nesse primeiro encontro a sós, percebendo que suas vidas estariam entrelaçadas para sempre, ele lhe falou da sua precária saúde, e o quanto era grave o estágio em que se encontrava a tuberculose. Isso pareceu não abalá-la. Antes, disse-lhe que se apegava a todas as esperanças de que ele se veria livre da doença e que colheriam anos de intensa felicidade. Enquanto isso, embora fosse uma tortura, o seu caso de amor não conheceria as delícias dos beijos apaixonados; o que não pudessem seus corpos aproveitarem, aproveitariam suas almas. E assim, arrebatados por um intenso amor, entregaram-se à aventura incógnita do tempo. Este, porém, inclemente, trouxe para eles a maior desventura das suas vidas, ceifando todas as chances de serem felizes.
Ele, por alguma razão foi sufocado pela doença que o consumiu.
Lembro-me de um dos últimos quadros da fotonovela em que ela, junto ao leito de morte do amado, ao invés de colher um último doce beijo daqueles lábios que não conheceram a doçura dos seus, colhia num lenço branco uma gota de sangue que insistia em traçar uma derradeira linha de morte. Ali, nesse momento de tão profunda dor, seus olhos acolhiam os seus semblantes eternamente apaixonados. Apesar de todo sofrimento, ele, serenamente fechou os olhos, e morreu, arrastado que foi pelo tempo.
Uma breve narrativa numa seqüência de fotos que a mostravam em intermináveis viagens, dizia que ela, atrozmente derrotada na sua amada ambição de ser apenas mulher, esposa e mãe, entregara-se de corpo e alma à vida quase solitária de uma concertista internacional de enorme sucesso, coisa que havia preterido por causa da busca pelos seus reais sonhos.
A última foto, sem nenhuma legenda, mostrava uma mulher algo avançada no tempo, sentada ao piano, sobre o qual repousava, sempre, uma solitária flor.


2 comentários:

vida de vidro disse...

Bonito, apesar de triste. Amor eterno, isso ainda existe? :)**

efvilha disse...

São histórias antigas, e quem sabe possíveis no concerto desconcertante da existência "vida de vidro" humana.
Na incerteza, eu faria coro com Vinícius, e que cada amor seja "eterno enquanto dure".