sexta-feira, 13 de outubro de 2006

A máquina do tempo


 

Ela existe. Sim, a Máquina do Tempo existe, e não é um trambolho maluco cheio de botões, luzes piscantes, cronômetros endoidecidos, que viaja no tempo em rodopios alucinantes. Talvez por a procurarmos com essas características, não a encontramos.

Encontrei-a, e reencontrei-a, muitas vezes, entranhada nas folhas finas do papel dos livros.
Estes dias mesmo, mais uma vez, ela regurgitou diante de mim, inteiro, Eça de Queiroz. Desta vez foi o Eça; e sempre, quando quero, ela regurgita do passado um alguém. Às vezes ela me leva ao futuro, pois que é a Máquina do Tempo.

No presente momento, nós aqui do Brasil, estamos tendo uma espécie de nova chance, indo para um segundo turno das eleições, quem sabe com a oportunidade de nos desvencilharmos da já desgastada República PenTelhista, que nos tem legado tristes momentos.

Bem! E o que tem a ver Eça de Queiroz com a nossa política? Eu disse! Ele veio pela máquina entranhada numa folha de papel, e depositou nas minhas mãos o seguinte trecho por ele escrito em 1871. Naquele tempo ela falava do seu Portugal querido. Viajando no tempo, dando uma olhada pelo que acontece por aqui, ele achou por bem não retocar nada. Respeito-o, e nada retoco. Serve para o Brasil; se serve para o Portugal de hoje, que o diga lá os meus queridos amigos portugueses.

Eis o Eça: “O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Não há princípio que não seja desmentido nem instituição que não seja escarnecida. Já não se crê na honestidade dos homens públicos. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas idéias aumenta a cada dia. A ruína econômica cresce, cresce, cresce... A agiotagem explora o juro. A ignorância pesa sobre o povo como um nevoeiro. O número das escolas é dramático. A intriga política alastra-se por sobre a sonolência enfastiada do país. Não é uma existência; é uma expiação. Diz-se por toda parte: ‘O país está perdido!’”

E, diante de Eça, eu me calo.




6 comentários:

Bia disse...

Olá!
"O País perdeu a inteligência e a consciência moral" e a partir daí tudo é possível de acontecer...
Mas na minha humide opinião, quem perdeu tudo foi mesmo o ser humano, que se esqueceu de o que são valores, do que são sentimentos puros, que se esqueceu de ser verdadeiro. Até já se esqueceu de olhar para o lado e sorrir para alguém que apenas e tão somente precisa de um sorriso ou de uma mão... as pessoas estão cada vez mais egoístas e somos nós que fazemos o País e a Vida mas sózinhos não conseguimos mudar o País e muito menos o Mundo.
Um beijinho

Leticia Gabian disse...

Nosso momento é triste, preocupante e nos enche de vergonha e pavor pelo que ainda pode vir a nos acontecer. Se é que ainda pode piorar.
Beijo.

Leticia Gabian disse...

Nosso momento é triste, preocupante e nos enche de vergonha e pavor pelo que ainda pode vir a nos acontecer. Se é que ainda pode piorar.
Beijo.

conchita disse...

Eça tem razão, o País (neste caso Portugal)está perdido e principalmente as pessoas sem poder económico.
Obrigada pela visita.

Anônimo disse...

Oi amigo,

Esta é a boa verdade dos dias de hoje, mas uma verdade que infelizmente já vem de há muito tempo.
Desejo-te um lindo fim de semana e uma semana cheia de luz em teu coração.
Xi - corações mil.

silvino disse...

eça retirava do mundano as coisas intemporais. embora critique directamente a situação histórica, diria que também esboça a eterna luta do homem contra a corrupção de si mesmo. um combate desigual entre o céu e o inferno do seu coração.