quinta-feira, 24 de março de 2011

Liberdade

Em 1789, foi desencadeada no mundo a tormenta da liberdade, um dos tripés dos ideais da Revolução Francesa. A partir daí, e das comoções trazidas por outra tempestade, a Revolução Industrial, o mundo e o homem já não seriam os mesmos, pois que o homem moderno estaria criado, sendo, a partir de então, o Adão a repetir os mesmos pecados que levaram o Adão ancestral a ser “expulso do paraíso”.

Se tomarmos à letra a Liberdade Natural, teremos o “direito que o homem tem por natureza de agir sem qualquer constrangimento externo”.¹ Isso, assim posto, iguala o homem a qualquer outro ser da natureza. É o bicho. Tanto, que certa vez um dos magistrados do Superior Tribunal Federal, manifestando-se sobre uma questão do momento, dizia que qualquer pessoa presa tem o direito natural de buscar a liberdade. Fugir da prisão atende a esse princípio. É o bicho.

Pondere-se sobre a liberdade: esta seria o fato de se nascer, viver e morrer em paz. De fazer ou não fazer qualquer coisa à livre escolha. Seria isso, mesmo? Pois aí está a nascente de uma utopia. Das grandes. Das enormes. Seria... colossal?

Liberdade, a liberdade total, está em constante mergulho no buraco negro da relatividade das coisas. E, certamente, desde que foi escrita a letra “L” do título acima, até este momento, certamente mais relatividade foi acrescentada à liberdade, e mais voraz se tornou o buraco negro da relatividade do que seja a liberdade.

Não existisse o homem, e isso é difícil imaginar, e descartada a possibilidade de algo o substituir à altura, provavelmente os bichos estariam vivendo sob as mesmas regras surgidas no exato momento em que foram introduzidos no mundo, e sob o convívio de ser presa e predador estariam “livres” na natureza, mas, sujeitos continuamente às regras naturais impostas pelo fato de apenas existirem cada qual na sua espécie e habitat.

Mas. Criou-se o homem. Então: façamos as regras, infinitas regras não naturais, à imagem e semelhança do homem. E começa aí o morticínio da liberdade.

Não fosse o homem o ser pensante e social que é certamente sua existência se igualaria à aparente simplicidade da existência dos bichos. Todavia, o homem não é bicho, pois que é homem. Isso faz com que esse mesmo homem, tão sonhador com a liberdade, seja o ser menos livre a habitar a Terra, pois que é ágil e fecundo criador de regras, inclusive a de ser, por regra das leis, iguais em tudo, mesmo que seja de gênero diferente.

Talvez seja necessário compreender e até mesmo aceitar que o homem seja livre pela metade e a exatos 50%. Se não se ponderar e aceitar isso, é muito provável que os outros dois pilares dos ideais da Revolução Francesa, a igualdade e fraternidade, sejam anulados. 50%? Seria precariamente explicável. Somos dois gêneros, cada qual com suas liberdades específicas, e nos completamos. Somos seres sociais, e cada qual idealiza a sua liberdade que vai até à fronteira da liberdade do outro, e assim por diante. A liberdade do homem, considerada a singularidade, estaria continuamente confinada entre fronteiras continuadamente assediadas tanto pelo indivíduo que a julga ter, como pelo outro, que pensa a mesma coisa.

Tudo isso posto, fica claro que eu vejo a liberdade como algo relativo. Porém, e, paradoxalmente, eu me vejo como um cara livre, preso, todavia, a todas as regras que me detém em qualquer arroubo de liberdade maior do que me cabe como ser social. O resto... bem, o resto tem tudo a ver com Igualdade e Fraternidade.

1 www.dicio.com.br

Um comentário:

Unknown disse...

Muito belos e interessantes comentários e ponderações..... essa foi minha primeira leitura por aqui.....de muitas que imagino fazer.... obrigado por compartilhar seus pensamentos de liberdade....