terça-feira, 13 de junho de 2006

Chronos, devorador de vidas e de sonhos.

 

(Parte 1)




Não sei precisar no tempo, mas pelos relatos posteriores, feitos em família, eu devia ter pouco mais de três anos. Porém, as imagens são claras na memória. Morávamos numa grande fazenda cafeeira, onde meu pai era meeiro e cuidava de milhares de pés de café, no interior paulista. Eu deveria ter nascido nessa fazenda. Por razões já relatadas neste blog, nasci numa cidade longe dali.
O trabalho era duro, e toda a família nele estava envolvida. Por essa razão, assim que teve condições, pouco mais que um bebê, eu era levado para o cafezal, e ali cuidavam de mim como podiam. Nos anos anteriores, como ainda era um cafezal em formação, as safras não haviam sido das melhores. Nesse ano, respondendo aos zelosos cuidados dispensados, era esperada a primeira grande colheita. Era um tempo de esperanças e júbilo na família. De tanto lá ir, lembro-me do cafezal em plena e esplêndida floração, com o branco das flores se destacando entre o verde vigoroso das folhas. Ali estava plantado, também, o sonho da família, principalmente do meu pai. O de poder comprar sua própria terra, juntando essa boa safra esperada, às economias feitas até então.
Numa noite, tudo foi desfeito.
Como era hábito entre os moradores próximos, e por ser um lugar longe da cidade, as famílias se reuniam para rezarem o terço, uma vez por semana, terminadas as tarefas do dia. Era um momento, também, para se fazerem longas rodas de conversa. Chegado o momento do sono, que vinha cedo, voltamos para casa. Eu era carregado por meu pai, colocado sobre seus ombros, como adorava que o fizesse.
Muito longe, à nossa frente, alguns relâmpagos anunciavam que, em algum lugar estaria chovendo. Comentavam que, por não haver vento vindo daquela direção, a chuva não chegaria até onde morávamos. Com o cafezal em floração, uma chuva pesada sempre seria prejudicial.
Lembro-me, apenas, de ser tirado do meu ainda berço, já madrugada, e toda a família estar sob a mesa existente na sala, protegendo-se dos cacos de telhas e das pedras de gelo que caiam. O barulho era amedrontador. Uma pesada chuva de granizo nos atingira.
A manhã trouxe o pesadelo.
O cafezal fora reduzido a um tapete de flores, folhas e pedras de gelo, em meio aos troncos quase desnudos. Tudo era ruína. Justamente ali passara o pior da tempestade de granizo.
Depois de se ver a desolação instalada no cafezal, lembro-me que, enquanto meu pai fazia os reparos no telhado da casa, meu irmão e minha irmã, os dois um pouco de mais idade, recolhiam aves e pequenos animais mortos, para enterrá-los. Minha mãe se ocupava de reorganizar a casa.
Eu não compreendia a dimensão do que nos atingira, e sequer suspeitava das possíveis conseqüências. Posted by Picasa

4 comentários:

Zana disse...

Continue escrevendo, adorei...

Cumprimentos

Mayoli disse...

muito obrigado por visitar meu blog.

Yo tambien entiendo un poco el portugues, ya vez que es muy parecido al español y se decir algunas cosas como: belhos olhos....algo asi es no?

bueno, estaré visitando por aca...saludos Evaristo!!

Pequenina disse...

Para ser sincera o seu comentário deixou-me bastante orgulhosa das minhas modestas palavras escritas ao sabor do vento e no barco da vida... São palavras modestas que escrevo normalmente, quando sinto necessidade, quando alguma ideia nova me vem á cabeça... ou quando simplesmente sinto necessidade de descarregar um pouco o meu coração!

Muito obrigada pelo seu comentário! :)

Um beijo grande com sabor abraço apertado! :) *

Unknown disse...

Muito obrigada pelo seu comentário!
você é assim literale

"besos de colores"

ines