domingo, 27 de agosto de 2006

Apresentando um Amigo - 5

(parte 5)

Creio que ela pensava que as pessoas que passavam pela rua seriam como o Mô, ou como nós: tolerantes.
Apesar dos nossos cuidados quando estavam soltos, ela adotou o péssimo hábito de latir para as pessoas que passam por nossa rua. E algumas pessoas realmente detestam isso. Cuidávamos para que ela não fizesse isso, a repreendíamos tentando ensiná-la.
Bem, fazia exata uma semana que ela havia parido os filhotes, eis que saiu para dar uma das suas voltas. Poucos minutos depois retornou, ganindo, desesperada. Prontamente a socorremos, pensando ter sido agredida, atropelada, levado uma pedrada. Se ela voltou correndo para casa, antes fosse algo semelhante que a tivesse atingido. Logo estaria bem, pensamos.
Mas, não. Sabe-se lá, quem, atirou-lhe um pedaço de carne envenenado, possivelmente por estricnina, veneno poderoso, disseram, e habitual das pessoas “adoráveis” fazerem uso disso para matarem ratos, etc. Ela vomitou o pedaço de carne. Não vomitou o veneno, porém.
Aqui onde moramos, em um caso de emergência, é preciso contar com os serviços de uma cidade vizinha daqui, a dez quilômetros. Era um sábado, justamente no momento em que os estabelecimentos comerciais estão fechando suas portas, inclusive as lojas-veterinárias. Apesar de nos dizerem depois que as chances teriam sido poucas, tudo fizemos para salvá-la.
Bem, se estou apresentando apenas o Mô, é porque ela não resistiu ao ataque fulminante dessa substância ou outra qualquer com a qual foi covardemente agredida.
Não sou maldoso, creio. Mas, se houver o “depois”, e se os animais também tiverem esse “depois”, eu gostaria que a pessoa que fez isso tivesse um “presentinho” no final do tal túnel de luz. A Belinha a estaria esperando ali, abanando o seu rabo como o fazia para nós e, a partir daí, por toda a eternidade, ela teria o seu “boneco” preferido com o qual brincar, sem se cansar. O que era para nós uma simples alegria, seria o tormento para essa mente que assassinou a Belinha. Maldade minha? Penso que não. Ela, enquanto viva, apenas latia para as pessoas – o que é detestável que fizesse -, mas nós a estávamos educando a não fazer isso. Todos devem ter percebido que esse seu comportamento nos desagradava, e estávamos preocupados em educá-la. Que nos dessem tempo, ainda mais que ela adotou esse costume depois de estar prenha. Quem sabe se defendia a sua prole?

Bem, ela se foi. Ficou-nos o Mô.
Ele sentiu a falta da irmã? Claro que sim, nós muito bem o percebemos. Prontamente, o que ele fez com os filhotinhos da irmã?
Alimentá-los, dar-lhes água e alguns cuidados, isso fazíamos com o maior desvelo. E a parte canina? O Mô se encarregou disso. Foi algo maravilhoso de se ver. Ele se posicionava como um “tio” ou pai zeloso, lambia-os para limpá-los. (Temos certeza de que o Mô não é o pai) Se afastavam da “caminha”, para lá os reconduzia, exatamente tudo como a Belinha tinha feito nos últimos dias; e isso não foi preciso que lhe ensinássemos. O fez por instinto, ou seja lá por quê o for. Belo cãozinho.
Sem a Belinha, e o necessário desmame, os filhotes foram logo distribuídos. As pessoas que os receberam se prontificaram a cuidar, cada um do seu filhote. E assim o fizeram.

Falemos, então, somente do Mô.
Pronto! Você que detesta animais de estimação, e execra os cães, se chegou até este ponto da leitura desta história, deve estar num exaspero incontido. Provavelmente deve até estar pensando lá contigo: pronto!... lá vem esse babaca, ou imbecil, dizer que o seu c ã o z i n h o, essa “coisa” peluda, só falta falar.
Não! Engano teu! Eu jamais falaria isso. Do Mô, eu jamais falaria isso. Posted by Picasa

10 comentários:

Coisas de Ada disse...

Evaristo.
Somente hoje pude verificar que havia um blog seu para explorar. Vi também que somos da mesma terra...nasci em Curitiba e também do mesmo signo!
Então vim agradecer seu comentário estimulante em meu blog, há tempos atrás. Fico estimulada pois em se tratando de um professor graduado em letras creio que o elogio é bem verdadeiro. Quero dizer que gostei muito do que escreve (não consegui ler tudo) e que fiquei imensamente triste pela historia de seu amigo... eu vivo em prantos por essas alminhas inocentes, mortas e maltratadas pela vida afora. Mas acho que o pranto maior temos que deixar para os predadores humanos, os mais cruéis da natureza, que matam por prazer...
Obrigada pela visita e volte sim!

Elena Bravo "Elena de San Telmo" disse...

Hola Evaristo
Al borde del llanto leí esta historia, se lo que se sufre. Yo tenía una perrita "Faustina", que acababa de tener cachorros. Todos apreciaban a la Faustina por libre y alegre, menos uno. Ayy, Evaristo no se un mal vecino le pegó o la envenó no se, no se, el caso que vino a casa y murió en mis brazos.
Era invierno, y los cachorros no resistieron por ser muy pequeños a pesar que los envolvía en lana y le ponía bolsas de agua caliente.
Qué más decir? Yo no tengo palabras para la maldad, sólo asombro y este gusto amargo y triste.
Un abrazo
Elena

vida de vidro disse...

Terrível, a crueldade de certas pessoas. Como é possível não amar um animal? No fundo, de nós eles só querem carinho.
Um abraço

Ricardo disse...

Enfim... há e sempre haverá gente má para os animais... gosto da sua maneira de escrever... :) abraço

Sónia disse...

Olá.Emocionou-me ler este texto.Gosto muito de animais, especialmente de cães, embora tenha algum medo e não me aproxime muito.Fui mordida por dois e ganhei-lhes medo já em adulta.No entanto, respeito-os emenso.E sim , aos animais só lhes falta falar.Tive o meu "Punky" 11 anos.Era pequenino, torneadinho, pelo rapadinho, castanho, lindo.Uma ternura.Dormiu comigo anos.Foi o meu "filho" antes de ter os meus e ele os dele.Um dia foi atropelado enquanto atravessava a rua para ir ter com o dono.Alguém o viu e acelarou a fundo.Não, não foi acidente, também foi assassinio.Partiram-lhe a bacia, não haveria nada a fazer, não queriam operá-lo.Teria que ser abatido.Vim do trabalho, busca-lo para a morte.Rezei todo o caminho e encontrei-o morto.Agradeci a Deus, foi sem que eu o tivesse empurrado...Quem o fez? Não sei.A velocidade numa rua estreita foi demais para alguém conseguir ver mais do que um carro cinzento...

Deus ainda existe!

Um beijo grande

efvilha disse...

Ada.

Também, somente agora pude retribuir tua amável visita, e a tão prazeroso comentário. Obrigado.
Somos, sim, herdeiros da horrenda sanha de predadores. E isso é mais horrendo quando percebemos, e sabemos, que há todo um universo de paz, de luz, de flamejante amor, no qual poderíamos viver numa paradisíaca harmonia. Quem sabe esse seja o reverso da nossa vida, no depois desta vida.
Das grandes cidades, por Curitiba tenho grande carinho. Vivo a parte boa do nosso signo, essa marca que nos deixam os astros, pois que filhos das estrelas também o somos.
É, e será sempre verdadeiro.
Até breve.

efvilha disse...

Elena.

Obrigado pelo carinho da tua postagem.
Somente almas sensíveis podem perceber a candura com que nos tratam, e de nós espera não menos carinho, esse pequenos seres que enredam suas vidas às nossas.
Sinto, pela "Faustina". Se ela sofreu a undécima parte do que a Belinha sofreu, é doloroso pensar nos seus sofrimentos. Restam, sim, amargura e tristeza.
Um cordial abraço.

efvilha disse...

Vida de vidro.
É o que percebemos do Mô. Só quem convive com um animalzinho como ele, pode perceber o quanto sensíveis eles são, pois nos adivinham as tristezas e alegrias.
Se estamos alegres, nos convidam para a brincadeira. Se estamos tristes, nos procuram com seus agrados. Assim eles são.
Sim, apenas nos pedem carinho.

efvilha disse...

Ricardo.

Sim. E o mais triste é que nos temos por seres racionais. Com isso, todos os demais seriam os irracionais. Mas, o que isso significa se nos deparamos com seres "irracionais" tal qual o Mô, e tantos outros, que são mais afetuosos que muitos de nós humanos? Triste tema no qual pensar.
Obrigado pelo generoso comentário.

efvilha disse...

Crystal.

Obrigado pelo carinho das palavras de solidariedade.
É bom saber que tens na lembrança a presença de um pequenino ser como esse, que lhe foi furtado de maneira tão cruel.
Quanto a teres medo, é normal. Devemos, sim, nos precaver, pois esses animais podem absorver a maldade que há em muitas pessoas, ensinadas talvez que são.
Ao Mô, temos dado proteção, atenção e carinho, pois que ele veio conviver conosco.
Talvez, até, com a proximidade dele, você perderia o medo, pelo menos em relação ao Mô. Ainda falarei algumas coisas mais dele.
Sim, Deus ainda existe.
Um suave beijo a ti.