terça-feira, 21 de novembro de 2006

Chronos, devorador de vidas e de sonhos - 15


 
(Parte 15)

Ao contornarmos uma moita que se interpunha ao nosso caminho, paramos como que extasiados. Passada a surpresa, nos olhamos, sorrimos agraciados, e lentamente nos aproximamos de uma pitangueira carregada de frutas deliciosamente vermelhas, maduras, portanto. A pitangueira era quase da nossa altura, e seus frutos, em plena maturação, pareciam tenros e macios. Depois de comentarmos a sorte por temos tomado esse caminho, começamos, sem pressa alguma, a comer dos frutos, doces e suculentos. Riamos felizes com o achado.
Num dado momento, Leonor sugeriu que colhêssemos cada qual um punhado de pitangas, e fôssemos para a árvore. Eu estava curioso pelo que minha amiga pretendia mostrar-me.
Por fim, chegamos. A árvore, para o seu padrão, era alta, porém, não oferecia dificuldades para escalá-la. Por ter crescido sozinha, e não ter tido a necessidade de disputar luz com outras árvores próximas, seus galhos começaram e se formar próximos do chão. Leonor, ainda no chão, indicou-me por onde subir. Mostrou-me os galhos pelos quais eu deveria passar, e indicou-me exatamente o ponto onde eu deveria ficar. Ela sabia como ninguém, aguçar a minha curiosidade. Subi primeiro, seguindo os conselhos de Leonor, que vinha logo atrás. Ao chegar ao ponto por ela indicado, fiquei encantado com a vista que dali se descortinava à nossa frente. O galho e a posição em que estávamos nos deixavam num lugar da copa o mais alto possível de se ir com segurança, e ficávamos como se fosse em uma janela que nos permitia ver longe. A árvore ficava no topo da colina em que estávamos. Por isso, o declive à nossa frente aumentava a sensação de altura, e o horizonte se estendia a perder de vista.
Depois de passada a surpresa da visão, Leonor indicou-me um ponto distante, por entre duas colinas. Via-se, ao longe, a torre e o telhado de uma igreja, e os telhados de algumas casas que sobressaiam entre arvoredos. Lá, disse ela, era onde se realizaria a cerimônia do casamento. Próxima da igreja, disse ela, ficava a escola na qual ela, os irmãos, os primos e algumas outras crianças da região, estudavam. Disse que era apenas desse lugar em que estávamos que poderia ser visto o vilarejo. Que um dia em que se aventurara por ali em busca de frutas silvestres, viu a árvore e procurou nela um lugar no qual pudesse vir para estar a sós, se o seu lugar no alto da mangueira fosse descoberto e não fosse mais somente seu, e agora também meu, dizia ela. Não havia encontrado o tal lugar. Disse que estava por descer quando, por puro acaso, decidiu ir até esse galho onde estávamos, e descobriu esse lugar maravilhoso. Disse que essa árvore era especial na sua vida, e que lhe dava chances de ver longe.
Nesse instante, lembrei-me de que o padre que oficiaria a cerimônia de casamento, não seria outro senão o bom amigo padre Diderico. Eu teria ido à cerimônia se houvesse me lembrado disso antes. Comentei algo com a Leonor, e ela disse-me que o padre havia confirmado a sua presença no jantar de logo mais.
Conversamos sobre outras coisas, e Leonor, aos poucos, foi ficando um pouco pensativa, como que a ruminar pensamentos. Logo, sugeriu que descêssemos. Eu a segui, já algo apreensivo com o que estaria preocupando Leonor. Desde a leitura da fotonovela, a minha amiga vinha tendo esses momentos em que ficava absorta nos seus pensamentos, e até agora não havia me falado nada a respeito.
Íamos na direção da pitangueira, para mais uma colheita de frutas quando, bem à nossa frente, surgiu outra agradável surpresa.

2 comentários:

Bia disse...

Nada como ver o mundo em cima de uma árvore... frutos ali perto, frutos maduros, a árvore tinha os ramos como se de escadas se tratassem para vos proporcionar aquele belo momento, nada é por acaso, e vocês com toda a certeza o mereceram, ou então pertencem aquele grupo de pessoas, pequeno mas que ainda existe, que vê a beleza de uma árvore e antes de comer um fruto ainda consegue ver a cor, apreciar a sua textura...
gostei muito de ler

Anônimo disse...

Oi meu amigo,

Faz tempo que não te vejo pelos meus lados, e apesar de vir aqui sempre, tenho pensado será que ele ainda está em abaixo?
Se assim for meu querido amigo, espero que te recuperes logo.
Quanto a mais este chronos, achei lindo e doce, e de uma grande ternura, tu e Leonor novamente em uma aventura de fortes emoções, adorrei a altura em que ela te ensina como podes subir seguro pela arvore e ver o mundo dali, é lindo, acho que também subi convosco e consegui mirar um pouco daquilo tudo que vocês viram, até mesmo a Igreja eu a consegui visualizar.
Amei!!
Aproveito para te desejar um lindo fim de semana e uma semana cheia de luz em teu coração.
Xi - corações mil.